O dia em que o decoro foi jogado no lixo
- Márcio Kerbel
- 12 de jun.
- 2 min de leitura

Nesta quarta-feira (11), a Câmara dos Deputados foi palco de mais um episódio lamentável que expôs a deterioração do debate político no Brasil. Os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), ambos expoentes do bolsonarismo, protagonizaram uma troca de acusações, insultos e agressões verbais incompatíveis com o decoro parlamentar e com os princípios básicos de civilidade.
A cena — transmitida ao vivo e amplamente repercutida nas redes sociais — teve como alvo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi chamado de "moleque" em meio a gritos e provocações. O ataque se deu durante uma audiência pública, espaço institucional criado justamente para promover o diálogo entre o Executivo e o Legislativo, e não para servir como palanque de ataques pessoais.
Carlos Jordy, já conhecido por seu estilo confrontador e por reiteradas declarações polêmicas contra o Supremo Tribunal Federal e integrantes do governo, tem um histórico de ações que flertam com a desinformação e o discurso de ódio. Nikolas Ferreira, por sua vez, ganhou projeção nacional com vídeos nas redes sociais recheados de fake news, ataques à pauta dos direitos humanos e posturas provocativas — inclusive já tendo sido alvo de pedidos de cassação por quebra de decoro.
Ao invés de contribuírem para um debate qualificado e produtivo, os dois parlamentares optaram por encenar um espetáculo grosseiro e agressivo, típico da política do confronto vazio. Em vez de argumentos, gritos. Em vez de propostas, ofensas. O alvo, dessa vez, foi um ministro de Estado, mas o dano atinge diretamente a imagem do Congresso Nacional e, por extensão, a democracia representativa.
O parlamento é a casa do povo e deve ser reflexo dos anseios, contradições e debates da sociedade, mas jamais um ringue de gladiadores cujo único objetivo é "viralizar" em redes sociais com cenas de valentia artificial. O uso calculado da grosseria como estratégia política é corrosivo: enfraquece instituições, empobrece o debate público e estimula a radicalização do eleitorado.
É digno de nota que Fernando Haddad, mesmo diante das provocações, tentou manter uma postura institucional. Mas não há compostura que resista indefinidamente ao circo da incivilidade que tem tomado conta de parte da oposição.
O Brasil enfrenta desafios imensos em áreas como economia, educação, saúde e segurança. A sociedade espera que seus representantes atuem com responsabilidade, proponham soluções e respeitem as regras do jogo democrático. A política pode — e deve — ser feita com paixão, mas nunca com ódio. O Congresso e os eleitores merecem mais respeito.
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