Após um tempo sem fazer este apanhado no mundo cinematográfico, volto agora primeiramente comemorando a sanção do presidente Lula da Lei das Cotas de Telas, de autoria do Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Agora os filmes brasileiros vão ter mais espaço dentro dos conglomerados de cinema - como também nas TVs por assinatura. Trata-se de uma expansão de espaço para o audiovisual nacional, o que vai acarretar maior audiência para nossa pujante produção - que só aumenta em produtividade, mas tem dificuldade de chegar aos espectadores. Atividade econômica viva - gera emprego, receita, renda e, mais do que tudo, nosso cinema coloca nas telas a nossa cultura, língua e imaginação e construção artística.
Estreias no cinema 18/01 - 24/01
- O destaque evidente entre os novos filmes vai para “Segredos de um Escândalo” (“May December”), do veterano Todd Haynes. A película é um novelão satírico sobre a vida de aparências da típica família americana - no caso, não tão típica porque envolvida por um relacionamento que começou em pedofilia. Ao mesmo tempo temos a mímesis da encenação dentro da encenação do próprio filme - um simulacro bem construído ainda que não tenha a magnificência de um “Acima das Nuvens” do Olivier Assayas, por exemplo. Natalie Portman e Julianne Moore estão fantásticas, para variar, num flerte próximo de “Persona” do Bergman - mas o menino que tem vencido prêmios, o Charles Melton, me convenceu muito pouco. Recomendo bem, de toda forma.
- Aproveitando o fenômeno "Parasita", parece que agora será comum ter filmes coreanos em nossos cinemas. O mais novo exemplar é "Sobreviventes – Depois do Terremoto", filme de catástrofe que foi simplesmente o 4º filme mais assistido na Coréia do Sul em 2023. Como em outras produções audiovisuais coreanas: "utiliza recursos do cinema de gênero para de alguma maneira questionar o status quo, o individualismo e a paranoia generalizada" (diz crítica em espanhol de Diego Battle)
- A animação espanhola “Meu Amigo Robô”, indicado em Melhor Animação no Oscar, parece não ser muito para crianças em suas digressões distópicas sobre a sociedade: “a direção preserva um olhar de contemplação, um tanto agridoce, mesmo em sequências de forte apelo emocional” (Bruno Carmelo)
- O mesmo crítico Bruno Carmelo gostou bem do único filme de terror dessa safra de estreias: para ele, a piscina assassina de "Mergulho Noturno" fabrica um “elemento fantástico que materializa os desejos das pessoas ao redor. “
- Para quem também ama o sempre muito bom cinema português, "Mal Viver" de João Canijo traz o “horror que abastece pesadelos e consultórios de psicanálise: o horror das relações familiares” (André Renato)
- Ainda com poucas críticas, “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” estreia para alegrar a crianças, mas também decepcionando alguns fãs dos quadrinhos.
- Por fim, estreando no Rio apenas no Espaço Itaú de Cinema, outro filme português parece desconcertar: a animação "O Natal do Bruno Aleixo" faz zorra com essa época do ano com o uso de "personagens bizarro unidos em torno de discussões cotidianas potencializada pelo texto afiado que coloca tiradas impagáveis" (Marcelo Muller)
Seguem em cartaz no cinema
Destaco cinco filmes que ainda podem ser conferidos no telão (os dois primeiros eu assisti e sobre eles dou minha singela opinião).
- O italiano "O melhor está por vir" é uma fabulosa homenagem à expressão cinematográfica, ao dispositivo metalinguístico do cinema, à sátira política sofisticada (no conflito Stalin x Trotsky) combinada com uma nostalgia tipicamente felliniana (um trecho da “Doce Vida” é exibido). No filme, o próprio diretor Nanni Moretti interpreta um diretor de cinema envolto a crises artísticas e pressões de produtores (com uma crítica mordaz ao “padrão Netflix”). Enfim, uma película cheia de alma e entusiasta da beleza de estar vivo e em estado de criação.
- “Priscilla", da sempre interessante Sofia Coppola, foca na vida da esposa de Elvis Presley. Como nos outros filmes da diretora, é um cinema ávido por expressões, olhares e trejeitos que acabam por sintetizar muito mais sentimentos do que a própria narrativa (muitas vezes calcada em roteiros calculistas). Aqui, acompanhamos em progressão como a postura altiva de um astro decai em atitudes machistas de violência. É um filme desvergonhado, ainda que sutil e com nuances, em pintar Elvis como um abusador e de retirar de Priscilla a impressão de mulher interesseira – em roteiro que é baseado em biografia da própria. Esperava mais, mas é sempre bom admirar a Coppola por sua sutileza e carinho pelas mulheres.
- Também pode ser conferida a nova comédia dramática de Alexander Payne, diretor de admirável domínio entre humanismo e sátira social, “Os rejeitados”. "A climatização natalina funciona bem como catalisadora de um momentum de vazio que assola os personagens" (Michel Gutwilen)
- Já o irlandês “A Menina Silenciosa” aparenta ter muita sensibilidade a ponto de ser comparado com o cinema de Ozu por alguns críticos como o André Renato.
- Cinemão para assistir com pipoca e pirar com os efeitos visuais, “Godzilla: Minus One” resgata o monstrão muito presente em diversas versões do cinema japonês, revisitado dessa vez com muitos elogios. Segundo Chico Fireman é “mais que uma homenagem à história de uma das maiores criações do cinema, mas ao cinema em si e sua capacidade de gigantismo”.
Começo do ano é começo dos festivais
- Mulheres na cabeça dos júris: Inicialmente, faço um destaque sobre a presença já anunciada da ampliação de mulheres nas presidências dos júris dos festivais. Atriz maravilhosa revelada por "12 anos de Escravidão", Lupita Nyong’o vai liderar as escolhas da mostra principal do Festival de Berlim, que acontece em fevereiro. Na justificativa, os então diretores do festival, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian (substituídos do cargo um pouco depois do anúncio para a entrada de Tricia Tuttle, que dirigia a BFI London Film Festival) assim disseram: "[Lupita] personifica o que gostamos no cinema: versatilidade em abraçar diferentes projetos, abordar diferentes públicos e consistência numa ideia bastante reconhecível nas suas personagens, por mais diversas que pareçam”.
Já o Festival de Cannes, que acontece em maio, anunciou a diretora de “Barbie”, Greta Gerwig, como presidente do júri da Palma de Ouro. Segundo a direção do prêmio ela “aparece como representante de uma época que abole fronteiras e mistura gêneros para fazer triunfar a inteligência e o humanismo”. É a segunda cineasta mulher a conseguir esse cargo após Jane Campion em 2014 e em mais de 76 edições do certame.
(O citado Festival de Berlim divulgou na segunda (22/01) sua lista de filmes (que pode ser conferida aqui). No entanto, vou dar prioridade de comentar neste momento apenas as mostras que já estão acontecendo - de modo que também deixo para a próxima edição os comentários sobre o Festival de Roterdã, que acontece entre 23 de janeiro e 3 de fevereiro).
- Mostra de Tiradentes: Um cenário de tantos filmes nacionais importantes que começam sua trajetória nesse festival mineiro, agora do contexto da Lei das Cotas nos anima em ter maior chance de assisti-los nas salas de cinema! A mostra iniciou com uma homenagem para André Novais Oliveira e Bárbara Colen, que vão ter várias de suas obras exibidas durante o festival que dura até 27 de janeiro. Realizador de extrema sensibilidade, André já trouxe "Ela Volta Na Quinta" e "Temporada", além de belíssimos curtas. Já Bárbara, como atriz, mostrou grande expressividade em filmes como "Bacurau", "No Coração do Mundo" e "Aquarius".
Além de curtas, filmes que já repercutiram em outros festivais, oficinas, apresentações artísticas e debates importantes com os feitores do cinema, temos a Mostra Aurora que sempre traz obras fundamentais que serão comentadas durante o ano no meio cinéfilo - em júri formado pelo diretor Affonso Uchôa (“Branco Sai, Preto Fica”), a escritora Aline Motta, a crítica Juliana Costa, a pesquisadora Lia Bahia e o poeta Uirá dos Reis. Estão competindo: “EROS” (PE), de Rachel Daisy Ellis; “Eu Também não Gozei” (SP), de Ana Carolina Marinho; “Maçãs no Escuro” (SP), de Tiago A. Neves; “Lista de Desejos para Superagüi” (PR), de Pedro Giongo; “Not Dead” (BA), de Isaac Donato; “O Tubérculo” (SP), de Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thome Zetune; e “Sofia Foi” (SP), de Pedro Geraldo.
Já na mostra "Olhos Livres" os selecionados são: “A Câmara” (DF), de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão; “Aquele que Viu o Abismo” (SP), de Gregorio Gananian e Negro Léo; “Foram os Sussurros que me Mataram” (PR), de Arthur Tuoto; “Seu Cavalcanti” (PE), de Leonardo Lacca; “SOAP” (RJ/SP), de Tamar Guimarães; e “Terror Mandelão” (SP), de Felipe Larozza e GG Albuquerque. Na próxima edição desta coluna, faço um apanhado do que já está sendo comentado sobre os filmes.
- Sundance: Grande vitrine do cinema independente, o festival vai até dia 28, mas todos os filmes já tiveram sua primeira exibição e têm resenhas em inglês. Único brasileiro em competição, “Malu", longa de estreia de Pedro Freire, diretor com experiência em curtas e produções para a TV, foi exibido dentro da mostra internacional. Para Hillary Butler, que deu 3.5 estrelas para o filme, "é um exemplo do que se pode fazer com muito coração em pouco orçamento". Já o representante da China, “Brief History of a Family” relata os desafios de uma família em lidar com um amigo do filho dentro do contexto de “política de um filho” do país. Segundo Ricardo Gallegos (em espanhol): "O manejo do ritmo, os elementos de mistério e a tensão mantém a expectativa do próximo passo, pois não se sabe se estamos diante de um thriller ou um drama". Da bela escola iraniana de cinema, “In the Land of Brothers” trata das dificuldades dos imigrantes afegãos no Irã em três episódios - “os cineastas rapidamente demonstram um mundo rico de contrastes" (Marya E. Gates). Já “Layla” acompanha uma drag queen muçulmana: "é um familiar romance dramático sobre duas pessoas se descobrindo (...) é delicado quando é triste, e triste quando é delicado", diz William Bibbiani.
Na mostra norte-americana, “Didi” desponta como um dos favoritos ao tratar a história de um menino de descendência taiwanesa durante os anos 2000: "um bom trabalho em equilibrar com naturalidade a sensibilidade cômica com o insights sérios" (Peter Debruge). Outros destaques são “A Real Pain”, 2ª aventura do ator Jesse Eisenberg na direção (“uma investigação filosófica sobre como contextualizar, dimensionar ou sentir a experiência universal e humilhante que é a dor humana”, diz crítica). De Nathan Silver, diretor de dramas de pequenos gestos e arcos narrativos, “Between the Temples” é "uma picante, hilária e totalmente heterodoxa screwball comedy sobre um cantor angustiado que perde a voz", define David Ehrlich. Por fim, “Exhibiting Forgiveness”, primeiro longa do artista plástico Titus Kaphar, de acordo com Travis Hopson: "entende o quanto complicado é explorar um trauma geracional e o esquecimento de um pai ausente".
Estreias nos streamings
- Lançamentos na Netflix de dezembro/23 a 23/01/24 - “A Sociedade da Neve”, um remake de “Vivos” - no relato real da queda do avião nos Andes, em que os sobreviventes tiveram que cometer canibalismo para sobreviver - tem angariado diversos elogios (“[vai] ao cerne de cada pormenor do drama sem jamais [soar apelativo ou melodramático]”, por Carlos Alberto Mattos). O filme conquistou indicações no Oscar em Filme Estrangeiro pela Espanha e Melhor Maquiagem.
- Pouco afeito aos filmes mais antigos, Netflix surge também com o drama de época "O Último dos Moicanos", de Michael Mann e atuação esplendorosa de Daniel Day Lewis.
- Mestre do suspense, M. Night Shyamalan, exibe seu "Tempo", lançado em 2021 e para muitos uma continuidade da sua autoralidade característica. Segundo Arthur Tuoto, é um filme que manifesta "uma riqueza de possibilidades dramáticas".
- O primeiro "Fuga das Galinhas" é uma das minhas animações favoritas - uma inventiva e subversiva aventura sobre o espírito de grupo diante da luta revolucionária. Analisando os comentários medianos sobre a continuação "A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets" uma frustração inicial aparece - mas hei de ver. O trailer, pelo menos, é divertido.
- “Maestro”, com várias indicações ao Oscar e primeira experiência de Bradley Cooper na direção retrata a vida do músico erudito mas não é uma unanimidade. O excelente Francisco Carbone, por exemplo, detestou.
- Já o apocalíptico "O Mundo Depois de Nós", com a Julia Roberts, tem dado o que falar, sobretudo por conta do seu final abrupto. O trailer não me empolgou muito, aparentando ser uma ficção científica bem esquemática.
- Por fim, "Vozes da Segunda Guerra" é a pedida para os fãs de novos documentários de guerra.
- Lançamentos no MUBI de dezembro/23 a 23/01/24
- O representante da Argentina no Oscar (que não foi indicado), “Os Delinquentes” está no catálogo. Segundo comentários, trata-se de uma mistura de gêneros e referências derivado de filme de crime. Do mesmo diretor, Rodrigo Moreno, chega também seus filmes anteriores: “Um Mundo Misterioso” e “O Guardião”.
- Vencedor da última mostra paralela de Cannes, Um Certo Olhar, “How to Have Sex” dá seu olhar para a juventude contemporânea.
- O documentário vencedor do último festival É Tudo Verdade também está lá: “Incompatível com a Vida” faz uma radiografia de casos de gravidez frustradas.
- “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?” são os Irmãos Coen em estado de graça: enfrentando a América profunda, com todas suas dualidades e contradições, para fazer a zorra costumeira do caráter mais infame do país - através de canções e contos antepassados. “Gosto de Sangue”, o primeiro filme da dupla também marca presença no streaming já mostrando o tom cômico característico, só que dessa vez muito mais violento ao tratar de assassinato de amantes. Extremamente bem realizado, para variar.
- “O Outro Lado da Esperança” mostra “um formato [que] não há espaço para proselitismo político ou qualquer traço de pieguice, substituídos pelo peculiar senso irônico do autor [Aki Kaurismäki], aqui em momentos de grande inspiração”. (Gilberto Silva Jr.)
- "O Exercício do Poder" traz a reflexão que o "poder está relacionado à aparência" (Raul Arthuso).
- O terror espanhol “[REC]” é um vibrante representante do uso do “falso documentário” e do surgimento dos equipamentos mais modernos de câmeras para cultuar o sobrenatural e o filme de zumbi.
- Entre os clássicos e cults temos uma sessão de filmes de artes marciais da companhia Shaw Brothers; a retrospectiva do onipresente Pedro Almodóvar (com “Tudo Sobre Minha Mãe", "Ata-me" e "A Voz Humana"), a pérola de John Carpenter, “Fuga de Nova York” (para se somar com "Bruma Assassina" e "Halloween" que já estavam disponíveis); a fabulosa Claire Denis com seu filme de estréia já tratando sobre colonialismo: “Chocolate” e o retrato ultra realista do mundo junkie de "Drugstore Cowboy", obra do gênio Gus Van Sant. E não podemos deixar de citar os obrigatórios “Jules e Jim” de François Truffaut e “De Punhos Cerrados” de Marco Bellocchio.
- Lançamentos na Amazon Prime de dezembro/23 a 23/01/24
- A sensação “Barbie” chegou. Mas sua aprovação não é consensual: “O que confere sentido a Barbie, mais do que os anseios marketeiros da Mattel é o uso que crianças e adultos fazem dela: seja deixar ela constantemente pelada, cortar seu cabelo, desenhar em sua pele, trocar suas roupas com as de Ken, fazer ela colar velcro com outras Barbies ou mamar o Max Steel.” (Henrique Rodrigues Marques).
- Se "Priscilla" está nos cinemas, “Elvis” está no Amazon. A cinebiografia de Baz Luhrmann carrega sua marca: “luzes e cores em excesso, a montagem acelerada e a decupagem saturada” (Angelo Cordeiro).
- Para os fãs de possessões demoníacas, "Fale Comigo" é um prato cheio. Filme de excelente encadeamento de tensão, sustenta-se também muito pela atuação de Sophie Wilde. Revigorante para adoradores de terror assistir um filme de gênero tão bem feito.
- Filme sobre o pai das tenistas Serena e Venus Williams, "King Richard" com Will Smith também pode ser conferido. “O plano do patriarca é simples e certeiro, talvez um pouco ambicioso mas repetido com tanta ênfase e sem cerimônia que ninguém ousa duvidar” (Lorenna Montenegro)
- E aproveitando que “Wonka” segue nos cinemas, a saga do excêntrico chocolateiro, dessa vez interpretada por Johnny Depp e dirigida por Tim Burton, “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, pode ser conferida na plataforma.
- Premiações
- Oscar: Anunciados os indicados do prêmio dito mais importante do universo cinematográfico e que valoriza sobretudo, a indústria cultural norte-americana. Eis que os 10 filmes selecionados foram: "American Fiction", "Anatomia de uma Queda"!!!, "Barbie", "Os Rejeitados", "Assassinos da Lua das Flores"!!!!!, "Maestro", "Oppenheimer"!!!!, "Vidas Passadas", "Pobres Criaturas"!!!! e "Zona de Interesse"!!!! (com exclamação os também indicados em direção). Veremos se o filme de Christopher Nolan confirma seu favoritismo após um acúmulo de prêmios. No mais, poucas surpresas em relação a outras premiações, a não ser as seguintes: a francesa Justine Triet furando a bolha hollywoodiana e entrando em Direção por "Anatomia de uma Queda"; a Barbie de Margot Robbie fora da categoria de atriz; Leonardo DiCaprio esnobado em Melhor Ator (seu filme, “Assassinos da Lua das Flores”, choca por também não estar em Roteiro); "Folhas de Outono" fora de Melhor Filme Estrangeiro; Charles Melton de "Segredos de um Escândalo", bem como Julianne Moore e Natalie Portman, fora das categorias de atuação; o espanhol “Meu Amigo Robô” conseguir entrar em Animação, enquanto "Wonka" e “Ferrari” não são vistos nas categorias técnicas - bem como "Asteroid City" (Wes Anderson, ao menos, é indicado pelo curta "A Incrível História de Henry Sugar"); "American Symphony", filme sobre o músico Jon Batiste que inclusive era cogitado a entrar na categoria principal, foi esnobado entre os documentários (ainda que esteja entre as canções originais). Por fim, o elogiado filme britânico "All of Us Strangers" sai também de mãos abanando. A entrega dos prêmios acontece em 10 de março e todas as categorias podem ser consultadas aqui.
- Globo de Ouro: Inspiração para o Oscar, a premiação em sua 81ª edição consagrou “Oppenheimer” com o prêmio de filme dramático, direção (Christopher Nolan), as categorias de atuação masculina (Cillian Murphy e Robert Downey Jr.) e trilha sonora. “Pobres Criaturas” venceu a categoria de comédia, superando “Barbie” que ficou com o prêmio de “blockbuster” - categoria populista que estreou este ano. Além dos prêmios principais, destaco com entusiasmo a vitória do genial Hayao Miyazaki na categoria de animação e a indicação de Alma Pöysti, pelo filandês “Folhas de Outono” em atriz de comédia (prêmio, no entanto, vencido pela expressiva Emma Stone de “Pobres Criaturas"), quebrando a tendência anglofônica do prêmio. Confira todos os vencedores aqui. Confira também o podcast em que a jornalista Anna Barros convidou o colega Tom Leão para um bate-papo sobre a premiação. Dividido em 2 partes, pode ser conferido aqui e, logo depois, aqui.
- Critics' Choice Movie: Muito parecido com o resultado do Globo de Ouro, “Oppenheimer” também venceu o prêmio principal (além de direção, ator coadjuvante [P.S.: em protagonista, Paul Giamatti por "Os Rejeitados" desbancou Cillian Murphy], elenco, fotografia, montagem, efeitos visuais e trilha sonora) em premiação que "Barbie" dominou com 18 indicações (um recorde do certame) - vencendo (apenas?) melhor comédia, roteiro original, direção de arte, figurino, cabelo/maquiagem e canção ("I'm Just Ken"). Além de “Barbie” e o filme de Christopher Nolan, compartilhavam a categoria de Melhor Filme: "American Fiction" (vencedor de roteiro adaptado), "Assassinos da Lua das Flores"; “A Cor Púrpura”, “Maestro”, “Pobres Criaturas” (com Emma Stone desbancando Lily Gladstone em Atriz); “Os Rejeitados” (além de Giamatti, vitórias de atriz coadjuvante para Da’Vine Joy Randolph; e ator novato para Dominic Sessa); o polêmico “Saltburn” e “Vidas Passadas”. Confira todos os vencedores neste link.
- Se os Oscars são tão brancos, importante as premiações Black Reel e African American Film Critics Awards (AAFCA) existirem. Na primeira, "American Fiction" foi a grande vencedora, competindo com "A Cor Púrpura", "Origin", "Rustin" e "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”). O longa de Cord Jefferson ainda venceu direção e direção estreante, atuação (Jeffrey Wright), roteiro e roteiro estreante. Enquanto "A Cor Púrpura" venceu grande parte das categorias técnicas. Destaco também a preciosidade de "All Dirt Roads Taste of Salt" vencendo fotografia (de Jomo Fray), ainda que tenha perdido o prêmio de filme independente para "A Thousand and One" (que também aparenta ser muito bom). A AAFCA também concedeu o prêmio principal para "American Fiction" na categoria Comédia - além das categorias de roteiro e cineasta estreante. Enquanto, “Origin” venceu Filme de Drama e Direção para Ava DuVernay - e “A Cor Púrpura”, Melhor Musical, atriz coadjuvante (Danielle Brooks - empatada com Da’Vine Joy Randolph por "Os Rejeitados"), elenco e música.
- Por fim, "Anatomia de uma Queda" (o grande favorito entre os filmes estrangeiros do Oscar, mas que não me animou muito) foi o grande vencedor do European Film Awards levando as estatuetas de melhor filme, diretor, roteiro, montagem e atriz. Confira a premiação completa aqui.
- Listas de melhores de 2023
- À Pala de Walsh, publicação de excelência, assim definiu em consenso seus favoritos: (1) Aftersun (2) Afire (3) Pacifiction (4) Tár (5) A Romancista e o Seu Filme (6) Maestro (7) Retratos Fantasmas (8) Perfect Days (9) Saint Omer (10) Cerra Los Ojos. Ao passo que o crítico que muito valorizo, Luiz Soares Júnior, selecionou assim os seus: (1) Batem à Porta (2) Paixão Misteriosa (3) Pacifiction (4) Don Juan (5) Retratos Fantasmas (6) Master Gardener (7) Segredos de um Escândalo (8) A Romancista e o Seu Filme (9) Afire (10) O Melhor Está Por Vir
- A IndieWire fez com consenso com 158 críticos de todo o mundo e assim ficou a seleção: (1) Assassinos da Lua das Flores (2) Oppenheimer (3) Pobres criaturas
(4) Vidas Passadas (5) Segredos de um Escândalo (6) A Zona de Interesse (7) Anatomia de uma Queda (8) Barbie (9) Os Rejeitados (10) Asteroid City. A categoria de direção repetiu muito dessas escolhas mas foi interesse a aparição em 10º de Albert Serra por Pacification. Nos TOP 1, Emma Stone venceu melhor atuação (sem separação por gênero) por "Pobres Criaturas"; "Oppenheimer" a melhor fotografia; “Kokomo City” o melhor documentário; "Segredos de um Escândalo" o top em roteiro; e em melhor filme estrangeiro, "Anatomia de uma Queda".
- Meu crítico favorito, Manu Yañez, também fez sua seleção: (1) "Cerrar los ojos" (2) "Music" (3) "Hitman" (4) "Zona de Interesse" (5) "Assassinos da Lua das Flores" (6) "La Chimera" (7) "El Auge del Humano 3" (8) "Asteroid City" (9) "Passagens" (10) EMPATE: "O Corno" + "La Imatge Permanent". Em texto maravilhoso em espanhol, ele relaciona "programas duplos" com os filmes.
- Crítica super consagrada, Amy Taubin, lançou seu TOP 10: (1) Up the Illusion (2) Green Border (3) Oppenheimer (4) Assassinos da Lua das Flores (5) Hitman (6) A Thousand and One (7) Menus-Plaisirs (8) Segredos de um Escândalo (9) La Chimera (10) EMPATE: Cerrar los ojos + Showing Up. Leia os comentários sobre os filmes aqui [em inglês]:
- Outro excelente, Jonathan Rosebaum, assim escolheu os seus: (1) "Do Not Expect Too Much from the End of the World" (2) "Filhas do Fogo" (3) "Saint Omer" (4) "Barbie" (5) "Afire" (6) "Little Girl Blue" (7) "Albert Brooks: Defending My Life" (8) "Assassinos da Lua das Flores" (9) "No Bears" (10) "The Master Gardener"
- Já o crítico Neil Young, escolheu os seguintes filmes: (1) "Samsara" (2) "El Auge Del Humano 3" EMPATADO COM “The Resurrection of Dave” (3) "National Anarchist: Lino Brocka" (4) "La Chimera" (5) "Bottlemen" (6) "Afire" (7) "Landshaft" (8) "Folhas de Outono" (9) "Natura" (10) "Gran Turismo"
- Por fim, uma lista visual. O sempre deslumbrante TOP do David Ehrlich é uma ode ao cinema, que tem a música contagiante e a edição vibrante como protagonistas.
P.S.: Para terminar de verdade, um relato de uma exibição inédita e que encheu a Cinemateca do MAM: o histórico filme "Amazônia, o Maior Rio do Mundo", de Silvino Santos teve exibição no Museu, com direto a debate com João Moreira Salles, Hernani Heffner e Rodrigo Archangelo, com mediação de Carlos Alberto Mattos. Aqui, Carlos relata essa absoluta experiência de um filme que se encontrava perdido e é soberano no registro do nosso pulmão do mundo.
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