O vazio que se preenche com fanatismo
- Zé Maia
- 26 de set.
- 2 min de leitura

A leitura de Fanatismo e Movimentos de Massa, de Eric Hoffer, publicada em 1951, é um convite a refletir sobre questões que permanecem surpreendentemente atuais. O autor, longe das academias e próximo da vida comum, revela como indivíduos fragilizados encontram nos movimentos coletivos uma forma de preencher o vazio existencial. Ao revisitar sua obra hoje, percebemos ecos diretos no cenário político e social contemporâneo.
Eric Hoffer não foi um intelectual de universidade, mas um trabalhador que aprendeu a pensar observando a vida real. E talvez por isso tenha escrito com tanta clareza sobre algo que atravessa gerações: a força dos movimentos de massa sobre pessoas em busca de sentido.
Em Fanatismo e Movimentos de Massa, Hoffer mostra que o motor do fanatismo não é a ideologia em si, mas a necessidade humana de preencher o vazio deixado pela frustração. Nazismo, comunismo, nacionalismo, religião — cada rótulo tem sua cor, mas todos oferecem a mesma promessa: uma nova vida em troca da renúncia ao eu. O indivíduo, cansado de si mesmo, se dissolve em uma causa que lhe dá identidade, orgulho e até disposição ao sacrifício.
Essa troca — a dúvida pela certeza, a liberdade pela obediência, o presente por um futuro idealizado — continua atual. Hoje, basta olhar para a política: não apenas nos extremos, mas em qualquer lado do espectro, há movimentos que capturam pessoas fragilizadas pelo desencanto, pela desigualdade ou pela falta de perspectivas. As redes sociais funcionam como arenas que amplificam sentimentos, oferecendo pertencimento instantâneo e um inimigo claro a ser combatido.
O ponto de Hoffer é simples e perturbador: o fanatismo não nasce da ideologia, mas da carência humana de sentido. Quando indivíduos não encontram propósito em sua própria vida, tornam-se mais vulneráveis a causas coletivas que oferecem um “renascimento”. Isso explica por que grupos tão diferentes podem, no fundo, se parecer tanto.









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