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Festival de Berlim traz 19 filmes em um contexto politizado

Foto do escritor: Rudá LemosRudá Lemos

Atualizado: 18 de fev.

Considerado a primeira grande mostra de cinema do ano, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, conhecido como Berlinale, inicia sua 75ª edição em um momento de intensas discussões políticas, após censuras na edição passada de protestos pró-Palestina e contra Israel, das desventuras fascistas de Donald Trump e a proximidade das eleições na Alemanha, marcadas para 23 de fevereiro.


A nova diretora do festival, Tricia Tuttle, enfatizou que o evento representa uma rejeição às ideias propagadas por partidos de extrema-direita, que têm ganhado força no cenário político atual. Pesquisas realizadas na Alemanha colocam o partido de extrema-direita AfD em segundo lugar, atrás apenas dos conservadores.


Tuttle, que assumiu a direção da Berlinale em abril de 2024, após uma gestão elogiada no BFI London Film Festival, tem se apresentado como defensora da liberdade de expressão e da inclusão no cinema. Ela destacou a importância de manter o festival como um espaço para debates abertos, mesmo diante de pressões políticas. "A gente acredita que nossos filmes sempre vão oferecer várias perspectivas e mostra nosso interesse na diferença e no pluralismo", afirmou Tricia em entrevista para o Cineuropa.


Apesar de ser reconhecida pelo caráter político e progressista na sua história, a Berlinale de 2024 foi marcada por críticas por censurar manifestações relacionadas ao genocídio aplicado aos palestinos, o que já levou apelos por boicotes na edição atual, por entidades como a Strike Germany.


Homenageada desta edição, Tilda Switon marcou em seu discurso o tom político que seguirá até o término do festival em 23 de fevereiro: "[Precisamos] de um reino sem fronteiras e sem política de exclusão, perseguição ou deportação (...) O assassinato em massa perpetrado pelo estado e internacionalmente permitido está atualmente aterrorizando mais do que apenas uma parte do mundo". Tilda é conhecida por filmes como Okja, A Praia, Conduta de Risco e, mais recentemente, o belo O Quarto ao Lado, de Almodóvar.


Tem brasileiro concorrendo na mostra principal!

Tratando agora especificamente dos filmes que competem no Festival, a torcida brasileira, no rastro do sucesso de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, deve recair para o filme O Último Azul, de Gabriel Mascaro, diretor pernambucano dos prestigiados Boi Neon, Doméstica e Ventos de Agosto. Aqui, ele trata uma distopia em que idosos são isolados e a Amazônia é usada como cenário. Denise Weinberg e Rodrigo Santoro estão no elenco.


O júri da mostra principal é presidido pelo cineasta americano Todd Haynes, realizador de filmes como Não Estou Lá, Carol e Longe do Paraíso. Conhecido pelas temáticas LGBTIs em seus filmes, Haynes tem criticado a administração de Donald Trump e expressou preocupações com a ascensão de políticas de extrema-direita.


O cineasta vai presidir um júri formado pelo realizador Nabil Ayouch (Morrocos/França), a figurinista Bina Daigeler (Alemanha), a atriz Fan Bingbing (China), o diretor Rodrigo Moreno (Argentina), a crítica e escritora Amy Nicholson (EUA) e a diretora, atriz e roteirista Maria Schrader (Alemanha).


Além de Mascaro, outros 18 filmes competem pelo Urso de Ouro.


  • "Ari" (França/Bélgica): Dirigido por Léonor Serraille, o filme trata de um professor jovem que passa por situações de saúde mental e problemas com o pai e com isso se reconecta com seus velhos amigos. A realizadora venceu um “Camera D’Or” em 2017 por Juene Femme.

  • "Blue Moon" (EUA/Irlanda): Diretor já muito cultuado, tendo feito pérolas como a trilogia Antes do Amanhecer/Pôr-do-Sol/Meia-Noite e Jovens, Loucos e Rebeldes, Richard Linklater retorna para Berlim para apresentar uma cinebiografia do famoso compositor da Broadway, Lorenz Hart, estrelada por Ethan Hawke e Margaret Qualley.

  • "The Safe House" (Suíça/Luxemburgo/França): Lionel Baier exibe seu olhar sobre as manifestações francesas de Maio de 68 na perspectiva de uma criança na casa de seus avôs. 

  • "Dreams" (México/EUA): Michel Franco narra a história de uma jovem dançarina de balé mexicana que atravessa a fronteira em busca de sucesso nos Estados Unidos, estrelada por Jessica Chastain e Isaac Hernández.

  • "Dreams (Sex Love)" (Noruega): Dag Johan Haugerud explora as complexidades do amor e sexualidade envolvendo uma professora e seu aluno.

  • "What Does That Nature Say to You" (Coreia do Sul): o incansável Hong Sang-soo retoma aos seus dramas minimalistas, tratando de um jovem poeta que passa o dia com a família da sua namorada. 

  • "Hot Milk" (Reino Unido/Grécia): A roteirista Rebecca Lenkiewicz faz seu primeiro filme na direção adaptando um romance homônimo, explorando, em uma zona costeira, a relação entre duas mulheres interpretadas por Emma Mackey e Vicky Krieps. Já Fiona Shaw, mãe de uma das personagens, é atravessada por essa relação.

  • "If I Had Legs I'd Kick You" (EUA): Mary Bronstein dirige esta comédia dramática sobre uma mãe que está cansada do seu dia a dia familiar e de trabalho, interpretada por Rose Byrne e produzida pela cultuada A24.

  • "Kontinental '25" (Romênia/Brasil/Suíça/Reino Unido/Luxemburgo): Radu Jude, diretor super prestigiado da nova onda de cinema romeno, deve apresentar mais um de seus dramas-satíricos sombrios com questionamentos contemporâneos, neste caso relatando a falta de moradia e o nacionalismo na Romênia.

  • "El Mensaje" (Argentina/Espanha): Um dos poucos exemplares latinos em competição, Iván Fund fala sobre a comunicação com animais realizada por crianças sendo mercantilizada por adultos.

  • "Mother's Baby" (Áustria/Suíça/Alemanha): Johanna Moder trata de uma maestrina que depois de passar por uma fertilização in vitro suspeita do próprio filho quando este retorna a sua convivência.

  • "Reflection in a Dead Diamond" (Bélgica/Luxemburgo/Itália/França): Hélène Cattet e Bruno Forzani apresentam um filme sobre espionagem que homenageia os filmes do estilo dos anos 1960.

  • "Living the Land" (China): Huo Meng dirige este drama que explora as mudanças de tradição e socioeconômicas de uma vila rural chinesa.

  • "Timestamp" (Ucrânia/Luxemburgo/Países Baixos/França): Único documentário da lista, Kateryna Gornostai apresenta um ensaio sobre as escolas da Ucrânia após a invasão russa de 2022.

  • "The Ice Tower" (França/Alemanha/Itália): Lucile Hadžihalilović dirige Marion Cotillard neste drama ambientado nos anos 1970 sobre a adaptação do conto de fadas "A Rainha da Neve".

  • "What Marielle Knows" (Alemanha): Uma fantasia de Frédéric Hambalek que trata da descoberta de desenvolvimentos telepáticos de uma jovem.

  • "Girls on Wire" (China): Vivian Qu apresenta a jornada de duas primas afastadas ao longo de 20 anos, explorando sua evolução e redenção.

  • "Yunan" (Alemanha/Canadá/Itália/Palestina/Catar/Jordânia/Arábia Saudita): Ameer Fakher Eldin narra a história de um autor árabe exilado que viaja para uma ilha remota na Alemanha com a intenção de cometer suicídio, mas encontra uma senhora idosa que reacende seu desejo de viver.


Ampliando o escopo e promovendo maior diversidade cinematográfica, além da competição principal, a Berlinale apresenta as mostras paralelas Generation, Perspectives, Panorama e Forum, sendo esta última conhecida por filmes mais experimentais. Navegando por elas podemos destacar com maior curiosidade: os representantes brasileiros  A Melhor Mãe do Mundo, da Anna Muylaert, diretora de Que Horas Ela Volta? e Ave Noturna, da dupla Márcio Reolon e Filipe Matzembacher de Tinta Bruta e Beira-Mar, e no cinema feito por todo o planeta: Ancestral Visions of the Future de Lemohang Jeremiah Mosese; Mickey 17 de Bong Joon-ho; Lurker, de Alex Russell; Eighty Plus, de Želimir Žilnik; Peter Hujar's Day de Ira Sachs; Maya, Give Me a Title de Michel Gondry; Leibniz - Chronicle of a Lost Painting de Edgar Reitz; e Olmo de Fernando Eimbcke.


Será que o vencedor nesta edição também será do impacto de Dahomey, da diretora Mati Diop, Urso do Ouro de 2024? O filme, em formato documental e poético, abordou a devolução de artefatos saqueados do Reino do Daomé (atual Benim) pela França e foi amplamente celebrado por sua abordagem política e seu impacto na discussão sobre restituição cultural e luta decolonial. A vitória de Dahomey prova que Berlinale apostou na reflexão contra políticas históricas eurocêntricas e na promoção de um olhar crítico sobre o papel dos museus ocidentais na apropriação do patrimônio cultural de nações africanas.


Nesta pegada política, a edição de 2025 teve como filme de abertura, The Light, de Tom Tykwer (o mesmo de Corra, Lola, Corra), drama sobre a chegada de uma diarista síria em uma família, adotando cenas musicais, drama familiar, animação e tons de fábula. Em crítica, o Bruno Carmelo gostou muito pouco e chega a comentar: “É difícil determinar em que medida o diretor Tom Tykwer nutre carinho por esses personagens, e a partir de qual ponto começa a ridicularizá-los”.


Que a safra deste ano dos filmes em competição seja melhor do que a impressão dada por esse filme de estreia!

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