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Em terra de blindagem, deputado é rei

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A Câmara dos Deputados desta vez, conseguiu se superar. E não foi pouca coisa: aprovaram a chamada PEC da Blindagem, que reduz o alcance de investigações sobre parlamentares, com direito a votos de deputados do PT e de outros partidos de esquerda.


O pacto foi suprapartidário: quando o assunto é proteger a própria pele, não há governo nem oposição, só corporação. Além disso, deram regime de urgência ao projeto que tenta transformar “anistia” em um eufemismo jurídico: “redução da dosimetria das penas”.


O mais curioso é que parte da esquerda, que sempre se apresentou como defensora da moralidade pública, resolveu fechar os olhos para a contradição. Alguns Petistas e aliados votaram a favor da PEC, como se blindar políticos fosse compatível com um discurso de justiça social. É o retrato perfeito de Brasília: conveniências eleitorais valem mais do que coerência.


A PEC da Blindagem é a versão moderna da máxima brasiliense: em terra de blindagem, deputado é rei. A Câmara decidiu que, para investigar parlamentares, será preciso praticamente pedir bênção no plenário. Em outras palavras, criaram um escudo contra a Justiça.


E como se a blindagem não fosse suficiente, ainda deram prioridade máxima a um projeto que deveria envergonhar o país. Sob o nome de “anistia”, o que se vota é uma indulgência para quem atacou a democracia. E se a palavra pegou mal, não tem problema: basta reembalar a proposta como “redução da dosimetria das penas”, um termo técnico que parece sofisticado, mas que, na prática, é apenas uma forma elegante de dizer que golpista vai levar desconto na punição.


Parece jurídico, mas é político — e propositalmente difícil de entender para que o cidadão comum não perceba o que está acontecendo. É a velha arte de fazer o feijão com arroz parecer caviar.


Quando o assunto é a própria pele, votam em tempo recorde; quando se trata do povo, a pauta entra em recesso permanente. A Câmara tem projetos importantes esperando votação — como a isenção do imposto de renda ou medidas de combate à carestia —, mas prefere priorizar assuntos que atendem aos interesses dos próprios parlamentares. É quase um show de mágica: prioridades do país desaparecem e reaparecem apenas quando convém aos deputados.


Na lógica dos deputados, quem decide eleição não é a opinião pública, mas o caminhão de emendas impositivas despejado em cada reduto eleitoral. Eles sabem que podem ignorar o clamor popular: afinal, o que garante a reeleição não é a aprovação do eleitor, mas o dinheiro das emendas distribuído como moeda política. Criadas sob a justificativa de descentralizar investimentos, essas emendas rapidamente se transformaram em verdadeiros balcões de troca, regidos por suspeitas constantes de corrupção. E, se houver qualquer investigação sobre mau uso desses recursos, a PEC da Blindagem está lá para garantir que ninguém se quebre.


Democracia virou fachada, participação popular virou folclore, e a voz do eleitor só conta se estiver acompanhada de planilha de emendas. Brasília não governa o país: Brasília se protege, se autofinancia e se autopreserva.


Resultado: a ultradireita mantém músculo, o Congresso se blinda e o eleitor fica relegado ao papel de espectador. Lula pode até sonhar com a reeleição, mas a cada movimento em Brasília fica claro que o jogo não será jogado apenas nas urnas. Será decidido também nas emendas que abastecem prefeitos e deputados numa verdadeira orgia financeira. “Nunca antes na história deste país” a democracia teve tão pouco valor diante do mais brasileiro dos balcões de negócio. E é justamente nesse vazio de representação que o perigo cresce: um outsider pode surgir do descontentamento generalizado, alguém que encarne a revolta contra o sistema e transforme indignação em capital político. A história já mostrou que figuras assim aparecem de repente — e quase sempre com consequências imprevisíveis. Quem acha que o risco é pequeno, não está prestando atenção.


Por isso, a melhor resposta ainda vem da rua. Domingo, a partir das 14h, em Copacabana, grandes nomes da MPB se unem para dar voz a esse recado: a democracia não se blinda em gabinetes, se protege com gente, com canto e com presença. Se o Congresso insiste em se proteger contra o povo, cabe ao povo lembrar quem tem a palavra final. E mais: se a sociedade não ocupar esse espaço, alguém ocupará — e esse alguém pode ser o outsider embalado pelo ressentimento, pronto para transformar a revolta em poder. Que os deputados blindem o que quiserem em Brasília — no asfalto, quem decide é o povo. Afinal, enquanto eles discutem a dosimetria das penas, nós discutimos a dosimetria da indignação. E, convenhamos, nesse campeonato, a torcida ainda tem vez. Todos lá…


Filinto Branco – Colunista Político outros partidos de esquerda.



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