O que um improvável encontro entre o presidente Lula e o escritor Nelson Rodrigues pode nos ensinar sobre o Brasil de hoje?
Nelson Rodrigues era um respeitado jornalista, dramaturgo e apaixonado tricolor. Ao longo do tempo cultivou suas convicções conservadoras sem jamais perder o sentido nacionalista. No futebol, cunhou o termo "complexo de vira latas" para representar o derrotismo de certos setores que não acreditavam no potencial de nossos jogadores.
Luiz Inácio Lula da Silva, tem em comum com Nelson Rodrigues, a paixão pelo futebol, corintiano declarado, usa o velho esporte bretão para explicar as razões da política.
Mesmo levando em conta o seu conservadorismo político, Nelson aprovaria com louvor, o discurso pronunciado por Lula, nesta sexta-feira (23), na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris.
Em seu discurso, Lula tratou de demarcar o terreno da soberania afirmando sua disposição para renegociar acordos com a União Europeia.
“Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela UE não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta e vamos mandar a resposta. Mas é preciso que a gente comece a discutir,” afirmou Lula.
“Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico. Como é que a gente vai resolver isso?”, questionou Lula, sentado ao lado do anfitrião do evento, o presidente francês Emmanuel Macron.
Lula lavou a alma de quem nos últimos anos suportou a vergonha de ter na presidência do Brasil, um truculento e despreparado político que tornou o país, um pária global, subordinado aos interesses do poder financeiro internacional.
Ter um estadista na presidência e mais do que isso, um líder com visão geopolítica, devolve aos brasileiros o orgulho perdido por seis anos dos governos Temer/Bolsonaro.
Reconhecer que esse período de obscurantismo é resultado de um plano muito bem estruturado de destruição de uma nação, é o primeiro passo para recuperar o tempo perdido e estabelecer uma nova era de desenvolvimento prolongado e sustentável.
Neste sentido, para quem compreende o tabuleiro da geopolítica mundial, o discurso de Lula em Paris, tem o mesmo efeito de um gol de placa do rei Pelé em uma Copa do Mundo de Futebol.
O Brasil apresenta suas credenciais e sua disposição de dialogar de igual para igual com qualquer nação do planeta.
Márcio Kerbel é jornalista e editor do Radar Tempo de Notícia
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