O Escorpião e o Sapo: Trump e Lula em 30 Segundos
- Zé Maia
- 24 de set.
- 2 min de leitura

Na clássica fábula do sapo e o escorpião, ambos precisam atravessar um rio. O escorpião pede carona ao sapo, prometendo não picá-lo. O sapo, desconfiado, lembra-se da natureza traiçoeira do outro, mas cede ao apelo. No meio da travessia, o escorpião cumpre sua essência e desfere o golpe fatal. Enquanto ambos afundam, o sapo pergunta o porquê. A resposta é simples: “Não pude evitar, é da minha natureza.”
Hoje, em menos de 30 segundos de cordialidade, assistimos a um episódio que ecoa essa fábula milenar. Donald Trump abraçou Luiz Inácio Lula da Silva, sorriu, declarou simpatia e ainda o convidou para um encontro privado. Uma cena aparentemente amistosa, quase simbólica de reconciliação entre polos opostos. Mas, para quem conhece Trump, o mestre da encenação e da manipulação, a lembrança da fábula surge inevitável.
O teatro de Trump
Donald Trump não dá passos sem cálculo. Sua trajetória política e empresarial é marcada por gestos performáticos que, em geral, escondem armadilhas estratégicas. O episódio com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, é exemplo cristalino: o encontro que deveria simbolizar apoio se converteu em humilhação pública, com cobranças e chantagens veladas. Zelensky, que buscava legitimidade e ajuda, saiu marcado como dependente e vulnerável diante das câmeras do mundo.
Ao abraçar Lula, Trump oferece o gesto de proximidade, mas também planta a expectativa de domínio. Ele conhece a força simbólica da imagem, sabe que uma foto pode ser mais devastadora do que uma frase, e domina a arte de transformar segundos em capital político.
Lula como sapo?
Lula, com sua habilidade política e vasta experiência, não é ingênuo. Mas mesmo líderes experientes podem ser tentados a aceitar a carona do escorpião quando o contexto parece favorável. Um convite de Trump pode soar como abertura de diálogo, reconhecimento internacional ou até mesmo oportunidade de desarmar hostilidades.
Contudo, aceitar o gesto sem cautela é arriscar-se a ser usado em um jogo de manipulação maior. Para Trump, abraçar Lula pode não significar aproximação verdadeira, mas sim um movimento estratégico para enfraquecer adversários internos, mostrar-se “estadista” ou até preparar um palco para futura desestabilização.
O risco da picada
A fábula ensina que o escorpião age segundo sua natureza. Da mesma forma, Trump dificilmente resistirá à tentação de transformar qualquer encontro em um espetáculo que o beneficie — ainda que à custa de seu interlocutor.
Se Lula aceitar o encontro privado, há duas possibilidades:
1. Cena de cordialidade ampliada – útil para ambos, mas controlada por Trump.
2. Exposição pública de vulnerabilidade – onde Lula corre o risco de ser colocado como peça no tabuleiro do ex-presidente americano, talvez até ridicularizado.
Conclusão
O abraço de 30 segundos pode entrar para a história como um gesto diplomático ou como a introdução de uma nova armadilha política. Tudo dependerá da leitura estratégica que Lula fizer. O sapo da fábula sabia do risco, mas mesmo assim confiou. O resultado foi fatal.
A questão que fica é: Lula repetirá o destino do sapo ou conseguirá atravessar o rio sem dar espaço para a picada inevitável do escorpião?









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