Linha 3 do Metrô: um projeto que transcende os Jogos Pan-Americanos
- Márcio Kerbel

- 10 de out.
- 2 min de leitura

A escolha de Assunção, no Paraguai, para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2031 não deve servir de pretexto para sepultar sonhos e projetos que mobilizaram as cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Entre as contrapartidas apresentadas na candidatura conjunta, destaca-se uma das obras mais aguardadas das últimas décadas: a Linha 3 do Metrô, que prevê a ligação direta entre as duas cidades por meio de um túnel submerso sob a Baía de Guanabara.
Trata-se de uma proposta estratégica não apenas para Niterói e o Rio, mas para toda a Região Metropolitana, que concentra cerca de 13 milhões de habitantes e responde por mais de 70% do PIB fluminense. A nova linha permitiria reduzir drasticamente o tempo de deslocamento entre os dois lados da baía — hoje feito majoritariamente por barcas ou pela Ponte Rio-Niterói — e integraria municípios como São Gonçalo, Itaboraí e Maricá ao eixo metropolitano com maior eficiência.
Estudos preliminares indicam que a Linha 3 poderia transportar mais de 600 mil passageiros por dia, desafogando o sistema viário e diminuindo a emissão de poluentes, além de fomentar polos econômicos e tecnológicos em torno das estações. O projeto, que vem sendo debatido desde os anos 1980, já conta com traçado técnico definido e poderia ser executado por meio de parcerias público-privadas (PPPs), como ocorre em grandes obras de mobilidade ao redor do mundo.
O custo, embora elevado, não pode ser visto como obstáculo intransponível. O Túnel Santos–Guarujá, por exemplo, que começou a sair do papel após décadas de espera, é prova de que vontade política e mobilização social são os principais motores de transformações estruturais. Em diversos países, obras semelhantes se tornaram marcos de integração regional e desenvolvimento sustentável, atraindo investimentos e melhorando a qualidade de vida das populações.
Podemos dizer que, se há um legado positivo em toda a mobilização pelo Pan-Americano no Rio e em Niterói, foi justamente a apresentação de uma proposta de execução de uma obra tão esperada. Mais do que um projeto de transporte, a Linha 3 simboliza a capacidade de uma sociedade de transformar anseios coletivos em ações concretas. O futuro pode ser desejado, desenhado e realizado pela vontade afirmativa de seu povo, quando há determinação política e compromisso público com o desenvolvimento.
A não realização dos Jogos Pan-Americanos no Brasil não deve significar o abandono dessa meta — ao contrário, deve servir de estímulo para reafirmar o compromisso com o planejamento urbano e com o direito à mobilidade.
O momento é de resgatar o sonho com realismo e determinação, transformando antigos planos em políticas concretas. A história mostra que grandes cidades só avançam quando acreditam em seus próprios projetos. E o Rio e Niterói, com sua força criativa e protagonismo histórico, têm tudo para transformar essa travessia em símbolo de um novo tempo.






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