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A Era da Ignorância Confiante: o Efeito Dunning-Kruger na Política Brasileira

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O efeito Dunning-Kruger descreve um fenômeno em que pessoas com pouco conhecimento sobre um tema superestimam suas próprias capacidades, enquanto aquelas mais preparadas tendem a duvidar de si mesmas. No cenário político brasileiro atual, esse efeito tornou-se um retrato evidente de como a ignorância confiante passou a dominar o debate público. A política nacional transformou-se em um palco onde a convicção vale mais do que o conhecimento, e onde discursos superficiais, recheados de frases de efeito, substituem a análise técnica e o raciocínio crítico. A popularização das redes sociais potencializou esse comportamento: qualquer cidadão com acesso à internet sente-se habilitado a opinar sobre temas complexos como economia, segurança pública, direito ou meio ambiente, sem o mínimo embasamento. Pior, a eloquência desinformada muitas vezes é confundida com sabedoria, e a autoconfiança passa a ser vista como sinônimo de liderança.


Essa distorção afeta tanto eleitores quanto representantes. O político que fala com segurança, mesmo sem fundamento, ganha espaço, pois a sociedade passou a valorizar o discurso emocional em detrimento do racional. Assim, a polarização ideológica se intensifica: os que não compreendem um tema acreditam entender demais, e os que realmente entendem são silenciados pela gritaria. O resultado é um país que discute de forma ruidosa, mas pensa pouco; que reage com raiva, mas reflete raramente.


O efeito Dunning-Kruger na política brasileira não se manifesta apenas nas redes, mas também nas instituições. Há parlamentares que legislam sobre assuntos técnicos sem compreender suas implicações e gestores públicos que tomam decisões complexas baseadas em achismos ou interesses momentâneos. O desprezo pela ciência, pela economia real e pela análise jurídica tem custado caro ao país, gerando políticas ineficazes, desperdício de recursos e descrédito internacional.


Paradoxalmente, o Brasil é um país que valoriza a esperteza mais do que o conhecimento. O “jeitinho” é celebrado como virtude, e a arrogância da ignorância é exibida como autenticidade. Nesse ambiente, quem se propõe a estudar e compreender profundamente um tema é visto com desconfiança, como se o saber fosse uma forma de elitismo. Essa inversão de valores alimenta um ciclo perigoso: os desinformados ganham poder, e os preparados se calam.


Superar esse quadro exige humildade intelectual — a capacidade de reconhecer limites e aprender continuamente. É preciso recuperar o respeito pelo conhecimento técnico, valorizar a educação crítica e combater a cultura da certeza absoluta. O verdadeiro progresso político e social depende de líderes e cidadãos dispostos a duvidar de si mesmos e a buscar compreender antes de opinar. Só assim o Brasil poderá sair da era da autoconfiança desinformada e caminhar em direção à maturidade democrática.


P.S. O termo Efeito Dunning-Kruger foi cunhado em 1999 pelos psicólogos norte-americanos David Dunning e Justin Kruger, da Universidade Cornell. Em seus estudos, eles demonstraram que pessoas com baixo nível de conhecimento em determinada área tendem a superestimar suas próprias habilidades, justamente por não terem repertório suficiente para reconhecer seus erros — um viés cognitivo que, curiosamente, se manifesta em todos os campos da vida social, inclusive na política.

1 comentário


Maurício
há 3 dias

Estamos vivendo um tempo em que todo mundo (ou quase todos) se acha sabido por ter na ponta do dedo tudo que quer saber, ajudado pelo desenvolvimento da IA. Sendo assim, pessoas com pouco estudo acha que sabe tanto ou mais do que aquele que aprofundou-se numa universidade.


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