Venezuela: o Petróleo, o Poder e o Pretexto da Liberdade
- Zé Maia
- 18 de out.
- 2 min de leitura

O mundo volta a olhar para o norte da América do Sul com apreensão. A ordem do presidente Donald Trump para que tropas americanas avancem sobre a Venezuela reacende não apenas o medo de uma guerra regional, mas também a velha dúvida: até que ponto a defesa da “liberdade” é usada como cortina para interesses econômicos e energéticos?
A história se repete com novos rostos e o mesmo roteiro. A Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do planeta, tornou-se símbolo das contradições latino-americanas — um país riquíssimo em recursos, mas empobrecido por má gestão, corrupção e isolamento. O governo de Nicolás Maduro é o alvo ideal para a retórica americana de combate ao socialismo, ainda mais num momento em que o mundo repensa o futuro da energia e o petróleo volta ao centro do tabuleiro geopolítico.
Trump autorizou a CIA a realizar operações secretas contra o regime, enquanto navios americanos atacam embarcações venezuelanas sob o pretexto de combater o narcotráfico. Agora, fala-se abertamente em ações terrestres. Paralelamente, Washington impôs tarifas sobre países que importam petróleo venezuelano, sufocando a economia de Maduro e reforçando a presença militar no Caribe.
Tudo ocorre num cenário de queda nos preços do petróleo e disputa por novas rotas energéticas — o velho xadrez do poder vestindo farda de libertador. O discurso de “defesa da liberdade” oculta o real interesse: uma eventual queda de Maduro abriria espaço para corporações americanas reassumirem contratos bilionários e para a “reconstrução” do país, bancando por investidores aliados de Washington. Onde há caos político, há oportunidade financeira.
A ofensiva também serve à disputa maior entre EUA e China. Pequim é um dos principais credores e parceiros energéticos de Caracas. Enfraquecer o chavismo é enfraquecer a influência chinesa na América Latina.
Mas o preço pode ser alto. Uma invasão, mesmo “limitada”, seria vista como violação da soberania continental e traria de volta o fantasma das intervenções do século passado. Internamente, Maduro ganha fôlego com o discurso patriótico de resistência, reforçando o nacionalismo.
Enquanto isso, os mercados vibram: os títulos da dívida venezuelana disparam, e o capital especulativo fareja o sangue antes que ele seja derramado. É o mesmo padrão que já vimos em tantas guerras travestidas de libertação.
O dilema entre princípios e interesses se repete, agora sob a roupagem das “missões humanitárias”. O petróleo continua movendo motores, exércitos e consciências.
A Venezuela, que um dia simbolizou a esperança de uma América Latina soberana, volta a ser palco da disputa global.
E talvez o verdadeiro campo de batalha não seja Caracas, mas a narrativa: quem controla a versão dos fatos, controla o sentido do que é “libertar”.
Quando tanques se movem e a palavra “democracia” volta às manchetes, é preciso perguntar — como sempre: a quem interessa a guerra?









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