Foto: Renato Croce
Valorizar o amor-próprio das crianças e adolescentes e disponibilizar para eles procedimentos cirúrgicos e dermatológicos específicos – eis o mote do projeto Bem Te Vi no Hospital Getulio Vargas Filhos, o Getulinho, em Niterói. Após o Dia D com mutirão de cirurgias no dia 04/07, o hospital, que é referência em pediatria no estado do Rio de Janeiro, prossegue na realização destas intervenções médicas durante os próximos meses. Paralelamente aos procedimentos, a equipe de Psicologia da unidade de saúde realizou dinâmicas com os pacientes, roda de conversa com as mães e vai acompanhar as crianças em suas questões emocionais no pós-operatório.
A iniciativa do hospital surge da percepção de que é preciso apoiar as crianças e adolescentes na aceitação de sua imagem pessoal, oferecendo ferramentas emocionais e sociais para lidar com dificuldades relacionadas à aparência e amplia o debate sobre autoestima das crianças. Bullying, evasão e baixo rendimento escolar são situações significativas na vida dos pequenos, especialmente para aqueles que fogem do padrão estético imposto pela sociedade.
Quando no Dia D das cirurgias, os olhos azuis da Diana Trezzi, de 4 anos, brilhavam. Foi dela a primeira alta do mutirão, após retirar um dedo supranumerário da mão. Erika Souza, sua mãe, moradora de Jurujuba, elogiou: “A equipe daqui é maravilhosa. Foi tudo muito rápido e deu tudo certo. Minha filha chegou aqui nervosa, mas logo acalmada pelo setor de Psicologia”, comemorou ela que já conhecia o hospital, quando trouxe seu outro filho para operar fimose.
Mas tem vezes que é a mãe que fica mais nervosa. Caroline Figueiredo trouxe seu filho Henzo Figueiredo, de 11 anos, para separar dois dedos juntos (sindactilia) da mão e disse que o filho estava mais calmo do que ela mesma – apesar de ser uma cirurgia sem riscos. “Ele também é muito tranquilo com essa condição, inclusive nem fazia questão de fazer o procedimento – mas o médico disse que teria problemas conforme crescesse”, explicou. Caroline disse que ela e o filho costumam brincar com própria a condição: “quando soube da primeira piadinha que fizeram, disse para ele falar que com essa mão ele seria um grande nadador e quando fosse casar usaria um cordão ao invés do anel”.
Representante do caso mais comum dos pedidos para cirurgias, a “orelha de abano”, Samuel Silveira (9 anos) aguardava para ser realizar o procedimento. Dentro do conceito do Bem Te Vi de estimular a autoestima e a superação do buylling, a mãe Graciane Laís diz que defende muito ele contra as brincadeiras e mostra que ele tem que se defender. “Não estou nervoso, vai dar tudo certo”: Samuel também demonstrava tranquilidade enquanto brincava no celular – antes do médico anestesista entrar na sala e sinalizar as indicações pré-cirúrgicas.
Comprovando, também, que o hospital não é só lugar de nervosismo e tristeza, o grupo Doutores da Alegria, de palhaços besteirologistas, circulam entre os setores em que acontecem os procedimentos, animando a criançada e dando alívio aos familiares com as suas brincadeiras. “Eles são um barato, já tinha visto eles aqui no hospital, mas agora é meu filho caçula que está tendo contato com eles”, afirmou Marta Valadares, moradora de Piratininga, que levava seu menino Miguel para também realizar a cirurgia de “orelha de abano”.
Detalhes do projeto - O projeto Bem Te Vi traz o conceito de "se olhar com amor" e o desejo que cada um consiga se olhar assim, se fortalecendo nas relações afetivas e no desenvolvimento pleno. Dessa forma, a valorização da atenção psicossocial é fundamental neste percurso. De acordo com a coordenadora de Psicologia do hospital, Lucia Moret: "É fundamental observar os primeiros impactos do pós-operatório e verificar se a intervenção cirúrgica afetou a autoestima dessas crianças e adolescentes. Se, após a cirurgia, identificarmos algo que ainda cause sofrimento, iremos cuidar, orientar e fornecer a atenção necessária no pós-operatório", afirmou, ressaltando que os familiares precisam observar suas crianças e conversar sempre com elas.
Para Elaine López, diretora do hospital, esse projeto emociona, pois traz à tona questões importantes e, não raro, invisíveis para grande parte sociedade. “Estamos nos propondo a cuidar das crianças, mas também apoiar pais e educadores a lidar com essa situação. Aproveito também para agradecer a equipe de Pedagogia Hospitalar do hospital, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que ajudou na divulgação do projeto”, comentou, celebrando o trabalho multidisciplinar e integrado, típico do Getulinho.
Reforma - Com investimento de R$9 milhões, o hospital se prepara para entrar em obras em seu setor antigo, que contempla ambulatório, enfermarias, lactário, laboratório, apoio e serviços, cozinha, refeitório, subestação de energia, abrigo de resíduos, área de manutenção e setor administrativo. Entre os objetivos da reforma estão: renovação da infraestrtutura, adequação aos padrões construtivos e exigências normativas - o que vai refletir em maior conforto para pacientes, familiares e profissionais; bem como na ampliação de atendimentos.
Último dados do hospital – De performance impressionável em quantidade e qualidade na atenção em saúde, em maio, foram realizados 6.060 atendimentos emergenciais na unidade - com o índice de 67% de queixas respiratórias, devido a atual época de sazonalidade. Nas internações de perfil clínico, 190 atendimentos foram realizados. Importante ressaltar também que a Unidade Cirúrgica realizou 57 procedimentos em maio.
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