Terra natal de Marcos Sacramento, Niterói foi palco para sua "Obra em construção". A Sala Nelson Pereira dos Santos, no Gragoatá, recebeu no dia 3 de março o artista de incrível domínio cênico e de voz ampla. "Estou apresentando pela primeira vez aqui músicas que ainda vou gravar em novo disco, chamado 'Arco'", contou, para a honra da plateia que ali estava.
"Boa noite moço", Marcos inicia com saudação em pedido de licença. É a forma de ciscar o chão para as 17 músicas que seguirão, dentre elas clássicos da MPB e um clássico internacional (!). É que Marcos traz, em forma pagodeada, "Rocket man", de Elton John, após fazer uma saudação aos programas de rádio que tinham "hit parades". A abrasileirada na música deslocou positivamente um repertório praticamente autoral, marcado pela participação da banda formada por Luis Flávio Alcofra, Pedro Aune e Netinho Albuquerque.
O pandeiro do percussionista Netinho é destaque em "Pés de Convés" e "Sacramentos" - nesta última Marcos recorre às palmas da plateia para acompanhar a benção para Oxalá.
Já o baixo de Pedro Aune é destaque em "Voltei", em bonita simbiose com o tamborim de Netinho.
"No alvo", é outro destaque pelo violão de Luis Flávio, parceiro de Sacramento na composição da canção que é seguida por "Negro Jesus", grande destaque do espetáculo reforçando a negritude do filho de Deus.
Marcado muito pelo samba, o show também tem espaço para o afoxé. "Futuro cais" joga para a plateia em um belíssimo ijexá - parceria de Sacramento com Moyses Marques. Indo para o lado do baião, a música é emendada com "Assum de todas as cores", de Torres da Silva, outro destaque do repertório e gravada no último disco de estúdio de Marcos: "Caminho para o Samba" de 2022.
Tendo uma voz que tem ciência onde pode ser colocada e de todo seu alcance, Sacramento arrisca um a cappella de um clássico do venezuelano Simon Díaz, "Tonada de luna llena".
Ao que segue, "Graça", um cover de um compositor que Sacramento elogiou em público: Thiago Amud. A música tem pegada afoxé irresistível e se destacou ao afirmar que a "bonança vai amanhecer".
Indo "Para Frido", Sacramento diminuiu o ritmo para depois arrancar um "Todo amor que houver nessa vida" em levada jazz. "Cole em minha pele a sua alma", a canção "Manhã" segue mantendo a cadência mais contemplativa do show.
Ao que a música nordestina retorna com o medley paternal de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha: "Galope" junto com "Baião da Penha", em mais uma destaque do repertório.
Se encaminhando para o final do show, Marcos sacramenta sua belíssima amplidão de voz com "Sertaneja", canção que até então tinha sido eternizada com Orlando Silva, mas que com o violão de Luis Flavio e o vibrato incrível de Marcos, se fez a versão definitiva da música.
Caindo no samba, já no BIS, Sacramento trouxe uma música do seu disco de "Na cabeça" (2009), "Dia santo também" (com citação de "Meu nome é Gal"), em que diz que cansou de ser underground e agora quer ser mainstream. Talento para isso, Marcos Sacramento garantiu com firmeza e mais uma vez que tem demais.
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