
O ano de 2025 mal começou, e as fake news sobre a suposta cobrança de taxas no Pix já tomaram de assalto as redes sociais de milhões de brasileiros. Apesar dos esforços do governo, que incluiu postagens oficiais, entrevistas coletivas e desmentidos em massa, o vírus da desconfiança se espalhou com rapidez impressionante. Esse episódio deixou o governo em uma situação delicada, com poucas alternativas para recuperar a confiança no sistema de transferência de valores mais utilizado pela população.
Um dos principais vetores desse movimento foi um vídeo publicado pelo deputado de extrema-direita Nikolas Ferreira, que alcançou mais de 280 milhões de visualizações. No vídeo, o parlamentar levantava dúvidas sobre o monitoramento de movimentações financeiras e insinuava possíveis futuras cobranças por parte da Receita Federal. A ampla disseminação desse conteúdo potencializou o ambiente de desinformação e desconfiança em relação às intenções do governo.
Além disso, um levantamento divulgado pelo Instituto Quaest revelou que o recuo do governo em relação à portaria sobre monitoramento de movimentações financeiras amplificou a derrota nas redes sociais. De acordo com o estudo, as críticas ao governo ganharam tração e fortaleceram a narrativa de que haveria cobrança de taxas sobre o Pix.
Se antes da revogação, as menções negativas somavam 54%, contra 46% de citações positivas, agora elas somam 86% a 14%, com a desvantagem para a gestão federal à frente, após a revogação da medida. Essa percepção foi alimentada pela falta de uma comunicação clara e assertiva por parte do governo, o que dificultou ainda mais o combate à desinformação.
O episódio ocorre em um momento particularmente sensível, logo após a posse de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social do governo Lula. Nem o mais pessimista dos analistas políticos poderia prever um início de ano tão hostil no campo da comunicação. Diante dessa situação, o recuo do governo às críticas parece atender a uma estratégia de redução de danos, mas é evidente a falta de uma resposta articulada e de uma estratégia previamente planejada para enfrentar esse tipo de ataque.
Dois anos após a posse, o governo Lula ainda parece estar em uma postura reativa aos ataques da oposição, sem conseguir estabelecer uma agenda própria e mobilizadora que oriente o debate público para temas realmente relevantes. A batalha da comunicação, especialmente em tempos de redes sociais, exige não apenas respostas rápidas e eficazes, mas também uma presença consistente e proativa nos meios digitais e analógicos.
É importante também analisar quem se beneficia com a desconfiança em relação ao Pix. Grandes instituições financeiras, que tradicionalmente lucram com taxas de transferências bancárias e outros serviços, podem ter interesses em minar a credibilidade do sistema gratuito e amplamente acessível oferecido pelo Banco Central. Além disso, setores políticos oposicionistas usam a disseminação de fake news como estratégia para enfraquecer a confiança na gestão do governo e amplificar a insatisfação popular. Essa combinação de interesses econômicos e políticos contribui para a propagação da desinformação, dificultando ainda mais o combate ao problema.
Para recuperar terreno nessa disputa, o governo federal precisa investir em uma comunicação que combine agilidade e estratégia. É fundamental responder imediatamente a qualquer tentativa de distorção da realidade promovida por fake news. Mas não é só isso: é necessário criar narrativas que mobilizem a sociedade em torno de pautas positivas e conectadas com as demandas reais da população.
A desinformação é um desafio complexo e multifacetado, mas é imperativo que o governo atue de forma intransigente na defesa do direito dos brasileiros de serem bem informados. Somente com uma comunicação eficiente e coerente será possível enfrentar o impacto das fake news e reforçar a confiança nas instituições e nas políticas públicas.
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