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O Brasil cansou da polarização: a queda na aprovação de Lula e o desejo de superar o Fla-Flu político

A recente pesquisa Quaest trouxe uma daquelas notícias que fazem Brasília coçar a cabeça: a aprovação do governo Lula caiu de novo. Segundo o levantamento de 5 de junho, 57% desaprovam o governo, contra 40% que ainda o aprovam. Já a pesquisa do Instituto GERP, divulgada dois dias antes, pintou um retrato ainda mais sombrio: 61% de desaprovação e apenas 30% de aprovação — o pior índice desde o início do terceiro mandato.


O Planalto continua preso ao velho roteiro: reconstrução do país, herança maldita, destruição bolsonarista. Mas o script perdeu força. O eleitor não está apenas frustrado com o governo — está saturado da encenação que se repete eleição após eleição. Lula versus Bolsonaro virou um Fla-Flu interminável. E o Brasil, convenhamos, quer mudar de canal.


O desgaste se reflete em outro dado emblemático da mesma pesquisa Quaest: 66% rejeitam uma nova candidatura de Lula em 2026. E 65% não querem Bolsonaro de volta. A polarização perdeu o charme — e agora parece mais um casamento tóxico mantido por inércia.


Não por acaso, cresce o apetite por alternativas. Entre elas, Ciro Gomes ressurge como nome que representa justamente essa exaustão. Candidato recorrente e sempre crítico do binarismo lulobolsonarista, Ciro tem insistido em falar com o Brasil do meio — o Brasil que trabalha, que se indigna, mas que não grita em caixa alta nas redes sociais. Ainda é cedo para medir o fôlego eleitoral, mas o espaço para um nome fora do eixo já não parece tão improvável quanto antes.


Outra possibilidade cada vez mais discutida nos bastidores é o surgimento de um outsider — alguém que, vindo de fora da política tradicional, consiga traduzir esse cansaço difuso em uma narrativa convincente. Foi assim com Bolsonaro em 2018. Pode ser novamente, com outro rosto, outra linguagem, e — quem sabe — menos radicalismo. A fadiga do sistema abre brechas para quem souber dialogar com um país exausto de velhas promessas.


Enquanto isso, o governo patina. A pesquisa mostra que 44% acham Lula pior do que Bolsonaro. E 31% atribuem ao presidente a responsabilidade pelas fraudes no INSS. Metade da população apoia a abertura de uma CPI. A paciência, claramente, tem prazo de validade.


O governo parece governar com o retrovisor. A retórica e os programas continuam nos anos 2000, enquanto a inflação, o desemprego e os serviços públicos pressionam o presente. E a pergunta que se impõe é direta: “e nós, ficamos onde?”


Bolsonaro, mesmo inelegível, ainda serve de espantalho conveniente. Assombra o debate, justifica os erros, alimenta a militância. Mas a fórmula desgastou. O país está cansado de salvadores da pátria — sejam eles vestidos de vermelho ou de verde-amarelo.


A pergunta que paira é: quem vai captar esse desejo difuso por novidade? Quem vai falar com esse Brasil que olha para Lula e vê passado, olha para Bolsonaro e vê risco, e olha para si mesmo e vê o aluguel vencendo o salário?


Talvez as eleições municipais de 2024 comecem a indicar um novo rumo. Os resultados nas grandes cidades — em especial São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre — poderão revelar se há, de fato, espaço para um terceiro campo crescer. E talvez Ciro Gomes, se conseguir furar a bolha e ajustar o tom, represente esse Brasil que não quer mais torcer — quer viver melhor. Ou talvez surja, com força, alguém de fora do script — um nome novo, sem os vícios de sempre, capaz de catalisar o cansaço geral.


Uma coisa, porém, é certa: o ciclo da polarização está com os dias contados. E como já ensinava um velho político mineiro, quando o povo começa a bocejar, é melhor mudar o discurso — ou o público levanta da plateia.

 
 
 

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