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Redação RT Notícia

Nem esquerda, nem direita vencerão as eleições (Filinto Branco)




Queridos leitores, estamos chegando a mais um pleito decisivo, mas a velha história da polarização entre esquerda e direita já não explica muito bem o que está acontecendo. As eleições municipais da próxima semana, que prometem ser um reflexo das tensões nacionais, mostram nuances que vão além dessa divisão, que, convenhamos, já está na hora de ser superada.


Se olharmos para as pesquisas recentes, fica claro que o Brasil está passando por um momento de fragmentação política. A ideia de uma disputa simples entre esquerda e direita não dá conta da complexidade atual. Enquanto o PT e o PL ainda dominam os extremos nacionais, novas coalizões estão surgindo e ganhando força. Em cidades-chave, como São Paulo e Rio de Janeiro, já vemos figuras que fogem ao velho molde Lula-Bolsonaro.


Em São Paulo, por exemplo, todos estão de olho na disputa entre Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), mas é a ascensão de nomes como Pablo Marçal (PRTB) que chama a atenção. Ele representa uma nova direita que tenta se distanciar do bolsonarismo, mas ainda defende as bandeiras conservadoras. Pode ser o começo de uma reformulação política que veremos se consolidar nos próximos anos.


No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) deve sair ainda mais forte, com seu pragmatismo e habilidade em formar alianças. Ele não é exatamente um representante típico da direita, mas também está longe de defender pautas tradicionais da esquerda. Paes atrai um eleitorado mais conservador, que anda desconfiado das pautas progressistas.


Nos municípios vizinhos, como Niterói e São Gonçalo, a história é diferente. Em Niterói, Rodrigo Neves (PDT) é um exemplo claro de alguém que, vindo da esquerda, soube navegar bem pelo centro político. Com suas ex-gestões  bem avaliadas e alianças amplas, ele é o favorito (devendo vencer já no primeiro turno), mostrando a força da esquerda em um lugar com tradição social-democrata. Agora, em São Gonçalo, a coisa é mais direta: o Capitão Nelson, um bolsonarista de carteirinha, está com a vitória praticamente garantida. Questões como segurança e infraestrutura pesam muito por lá, e Nelson, com seu perfil conservador, tem a preferência. A esquerda, dividida, vai amargar uma derrota estrondosa.


Na Baixada Fluminense, região que inclui cidades importantes como Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo e São João de Meriti, o Centrão está bem posicionado para sair vitorioso. Nessas áreas, questões locais – como mobilidade urbana, saneamento e segurança – são o que mais importa para o eleitor. Partidos como MDB, PSD, PP, União Brasil e Republicanos, que dominam o Centrão, apostam em candidatos com discurso técnico e propostas diretas, sem grandes discursos ideológicos.


Em Nova Iguaçu, Dudu Reina (PP) segue como favorito, com seu estilo de gestão pragmática. Ele faz parte de uma ala que, embora próxima da direita, evita o extremismo bolsonarista e foca em alianças de centro e resultados práticos.


Duque de Caxias é outro reduto do Centrão, onde Washington Reis (MDB), mesmo sem disputar diretamente, ainda tem forte influência política, colocando seu candidato Netinho Reis numa disputa acirrada com o ex-prefeito Zito. Ele tem moldado o cenário local a favor de candidatos que seguem seu estilo de pragmatismo e boa articulação.Em Belford Roxo, o prefeito Waguinho (Republicanos), que sempre teve suas raízes no Centrão, enfrenta dificuldades para emplacar seu candidato, Matheus do Waguinho. Por outro lado, Marco Canella, do União Brasil, deve levar a melhor, consolidando ainda mais o domínio do Centrão.


E em São João de Meriti? O cenário por lá também aponta para um favoritismo do Centrão. O prefeito Dr. João (PL) enfrenta grandes dificuldades em emplacar seu candidato, Valdecy da Saúde, enquanto a vitória parece se encaminhar para o deputado Leo Vieira (Republicanos), consolidando mais uma vitória do Centrão. A disputa tem girado em torno de questões como saúde e infraestrutura, centrais para o eleitorado da região. Mesmo assim, o Centrão tem um histórico de articulação forte no município, o que pode garantir mais um triunfo.


Nem esquerda, nem direita: o Centrão é quem avança

O clima de insatisfação é o grande ponto de interrogação nas eleições. O bolsonarismo, enfraquecido, ainda não foi substituído por uma nova direita forte, e a esquerda, sem um projeto que empolgue, também não tem crescido como esperado. O cansaço com a polarização pode abrir espaço para surpresas.


Enquanto esquerda e direita travam suas batalhas, o Centrão avança. Sua capacidade de se adaptar ao momento e capturar o eleitor insatisfeito com a polarização faz dele o provável grande vencedor de 2024. Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, exemplifica isso com sua gestão pragmática e alianças amplas, representando o pragmatismo típico do Centrão.


Apesar do caráter local das eleições municipais, o cenário nacional tem influência. No fim das contas, o verdadeiro vencedor pode não ser nem a esquerda nem a direita, mas quem souber captar a vontade de renovação política. A polarização está perdendo fôlego, e o Centrão, maleável e adaptável, está pronto para colher os frutos desse novo cenário.


O desgaste dos extremos beneficia o Centrão, que deve sair fortalecido dessas eleições, com prefeituras conquistadas e uma influência política renovada para os próximos anos.


No próximo domingo, teremos a resposta nas urnas, mas eu volto com a coluna antes. Sem pretensão de influenciar suas escolhas, espero que leiam antes de votar. Até lá.


Autor: Filinto Branco, divulgado originalmente no Última Hora

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