Habemus Papam… e Plantão Permanente na Globo
- Filinto Branco
- 12 de mai.
- 2 min de leitura

Ah, o famoso “Plantão da Globo” a todo vapor para anunciar a fumaça branca em São Pedro! Desta vez, a emissora mais poderosa do país interrompeu novela, telejornal e até o Globo Esporte para exibir ao vivo a escolha de Leão XIV — como se fosse a notícia do ano, quando sabemos que menos da metade dos brasileiros ainda se declara católica. Enquanto isso, a Record manteve o Balanço Geral no ar, centrada nos telecultos que garantem ibope e fiéis fiéis. Mais do que agendas editoriais, esse contraste escancara escolhas de mercado, alianças históricas e o teatro da fé transformado em combustível de audiência.
Mas quem é este Leão XIV que brilhou nas telas da Globo? Robert Francis Prevost, cardeal americano de 69 anos, foi eleito na quarta votação e tornou-se o primeiro Papa nascido nos Estados Unidos. Agostiniano com mais de quatro décadas de missão no Peru, traz na bagagem experiência pastoral em zonas rurais e um perfil de liderança inclusiva, segundo o Vaticano. O seu lema episcopal ”Em um só, nós somos um” - adaptação de “In illo uno unum” - inspira união na diversidade, e o escudo papal conjuga o leão rampante, símbolo de coragem, com a estrela mariana, sinal de devoção à Virgem.
Leão XIV seguirá os passos de Francisco? Há sinais de continuidade: nomeado por Francisco para supervisionar a escolha de bispos, Prevost defendeu em 2023 a sinodalidade — a ideia de dar voz ao Povo de Deus — e participou de iniciativas de justiça social, sem se furtar a criticar políticas contrárias à Doutrina Social. Optar por “Leão” homenageia tanto São Leão Magno quanto Leão XIII, autor da encíclica “Das Novas Realidades”(Rerum Novarum), que lançou as bases da Doutrina Social da Igreja. Ainda assim, ao contrário de Francisco, cuja simplicidade se refletia nas vestes, Leão XIV estreou com trajes clássicos, lembrando mais Bento XVI do que o predecessor “progressista”.
Num plano mais amplo, vale recordar que o panorama religioso mundial é bastante diversificado. O Cristianismo congrega cerca de 31% da população global (17% católicos), o Islamismo soma 24%, Irreligiosos/Ateus 16%, o Hinduísmo atinge 15%, o Budismo ronda 7%; as religiões tradicionais e outras crenças completam o remanescente.
Enquanto a Globo tingia o Vaticano com câmaras e vinhetas douradas, o Brasil real discutia segurança, saúde, inflação e juros altos. A ironia? Num país cada vez mais plural, a televisão insiste em reservar seu prime time para o ritual da fumaça branca — quase um carnaval ritualizado onde fé e audiência se confundem. Resta perguntar: até quando a fé será mercadoria de ibope? E, se Leão XIV fala em sinodalidade - isto é, num modelo de governo em que bispos, padres e leigos dialogam e decidem juntos -, será que ele vai ouvir também o brasileiro que não se sente no foco do “Plantão da Globo”?
Comments