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Foto do escritorMárcio Kerbel

Fim da escala 6×1: redução da jornada de trabalho ganha apoio popular

Atualizado: 15 de nov.




Uma recente mobilização nas redes sociais para o fim da escala de trabalho 6×1 — onde os trabalhadores têm apenas um dia de descanso após seis dias consecutivos de jornada — traz à tona uma discussão essencial para as relações trabalhistas no Brasil. Liderada pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), a campanha rapidamente ganhou força, somando mais de 1,4 milhão de assinaturas em poucos dias. A repercussão impulsionou a proposta da deputada Erika Hilton (PSOL) no Congresso Nacional, que visa acabar com o modelo de jornada 6×1, com argumentos que apontam os benefícios de uma jornada mais curta para a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores. No entanto, a proposta encontra resistência, especialmente em setores conservadores e neoliberais, que questionam o seu impacto econômico.


No artigo, analisamos os prós e contras da mudança, considerando as experiências internacionais e os desafios específicos do mercado de trabalho brasileiro.


Prós: melhoria da produtividade e do bem-estar


A defesa por uma redução da jornada de trabalho no Brasil encontra respaldo em experiências bem-sucedidas em outros países. Estudos mostram que jornadas mais curtas, como uma semana de quatro dias, trazem benefícios tanto para trabalhadores quanto para empresas. Um estudo conduzido pela organização 4 Day Week Global, junto com universidades como Cambridge e Boston, revelou que o teste de adoção da semana de quatro dias no Reino Unido resultou em menos estresse para quase 40% dos trabalhadores e uma redução nos sintomas de burnout para mais de 70% deles.


Além dos ganhos para a saúde mental e física dos trabalhadores, empresas que participaram do estudo relataram menores taxas de rotatividade de funcionários e até um nível de aumento na receita. Esse cenário sugere que, ao contrário do que alguns críticos apontam, uma redução da jornada pode contribuir para uma maior produtividade, ao motivar e engajar mais os trabalhadores.


Outro ponto relevante para o debate é a ideia de que jornadas mais curtas podem gerar resultados positivos na economia como um todo, estimulando o consumo e o setor de lazer. Com mais tempo livre, as pessoas tendem a investir em atividades de lazer, cultura e capacitação pessoal, gerando efeitos indiretos em diversos setores econômicos.


Contras: desafios para a implementação e impactos econômicos


Por outro lado, os críticos da proposta defendem que uma mudança drástica na jornada de trabalho pode ser prejudicial, especialmente para setores que dependem de jornadas intensivas, como comércio, saúde e transportes. Esses setores, que frequentemente operam em horários prolongados, teriam dificuldades para suprir a demanda de mão de obra sem um possível aumento de custos, o que poderia levar ao aumento dos preços de produtos e serviços.


Os opositores da mudança também destacam que o Brasil possui uma economia complexa, com grandes disparidades regionais e setoriais. Alterações na legislação trabalhista, que diminuem a jornada de trabalho sem uma readequação do quadro de colaboradores, poderiam sobrecarregar empresas pequenas e médias, principalmente em um cenário econômico ainda marcado por desafios como inflação e crescimento tímido. A resistência dos setores conservadores e neoliberais baseia-se, portanto, na ideia de que o modelo atual ainda é necessário para sustentar a competitividade do país.


A realidade do trabalhador brasileiro


Um ponto importante a se considerar é que a proposta de reduzir a jornada de trabalho ainda é uma utopia para milhões de brasileiros que enfrentam condições precárias em suas atividades. Trabalhadores de áreas como comércio e saúde, por exemplo, muitas vezes já lidam com longas horas de trabalho e situações de desgaste físico e mental. Para que a proposta seja viável, é necessário garantir que os trabalhadores desses setores também possam ter uma qualidade de vida mais digna.


O futuro das relações trabalhistas e a visão otimista de Domenico de Masi


O debate sobre o fim da escala 6×1, impulsionado pela campanha digital e pela proposta legislativa, representa um passo importante para uma revisão das condições de trabalho no Brasil. A busca por uma jornada que privilegia o bem-estar, a produtividade e o ritmo para o desenvolvimento pessoal dos trabalhadores é uma demanda cada vez mais presente no mundo moderno.


Esse não é nem de longe um debate recente. A luta pela redução da jornada de trabalho é uma pauta histórica dos trabalhadores, respaldada por especialistas como Domenico de Masi. Criador do conceito de “Ócio Criativo”, o sociólogo defendia que a única saída para enfrentar o desemprego e a taxa de desocupação era reduzir a carga de trabalho individual e abrir novas vagas. "Para eliminar o desemprego, o único remédio válido é reduzir as horas de trabalho, mantendo o salário e aumentando o número de vagas", afirmou.


Embora existam desafios práticos e econômicos a serem enfrentados, o exemplo de países como o Reino Unido e a Alemanha, que adotaram modelos mais flexíveis, demonstram que é possível conciliar produtividade e qualidade de vida. Uma jornada de trabalho mais humana, que respeite as necessidades de descanso e lazer, não apenas fortalece o trabalhador, mas contribui para uma economia mais saudável e equilibrada.


Em um país onde o ritmo acelerado do trabalho afeta a saúde mental de milhões, a proposta de Erika Hilton oferece uma nova perspectiva para o futuro das relações trabalhistas. Uma mudança pode representar um avanço significativo para o Brasil, pavimentando o caminho para um mercado de trabalho mais justo e sustentável, em que o bem-estar do trabalhador seja valorizado como peça central de uma sociedade próspera.

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