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Correios — Entre o Ideal Público e o Peso Político



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Excelente o tema levantado pelo debate veiculado no Capital Político , na última sexta feira dia 17/10 .


O comentário do meu amigo Filinto Branco sobre a atual crise dos Correios funciona como um ponto de contraponto essencial à narrativa oficial que ainda defende a viabilidade do modelo estatal da empresa. Ao questionar o socorro bilionário de 30 bilhões de reais e a insistência em manter uma estrutura inchada, Filinto dá voz a um sentimento que atravessa gerações: a percepção de que a estatal, criada para unir o país, transformou-se em um símbolo de distorções administrativas e políticas.


A história mostra que os Correios nasceram com um propósito legítimo — garantir o acesso universal à comunicação e fortalecer a integração nacional. Entretanto, o ideal se perdeu no labirinto das alianças partidárias, da burocracia e do corporativismo sindical. O monopólio postal, concebido para proteger o interesse público, virou instrumento de inércia e proteção de privilégios. Cada nova gestão usou a empresa como moeda política, trocando cargos e contratos por apoio, até que a eficiência foi substituída pela conveniência.


Filinto toca num ponto sensível ao mencionar o “corporativismo sindical” e a dificuldade de romper com essa cultura. A estrutura dos Correios, marcada por benefícios acumulados, greves e baixa produtividade, reflete a incapacidade de adaptação de uma estatal que envelheceu diante de um mercado que exige velocidade, inovação e flexibilidade.


Não por acaso, estudos técnicos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) defendem a separação entre o serviço postal essencial — que deve permanecer público — e as áreas comerciais, que poderiam ser modernizadas em parceria com o setor privado.


Ao afirmar que o governo é “hábil politicamente” e que o presidente Lula “sabe trabalhar essa parte”, Filinto também expõe a raiz de uma dinâmica que atravessa todos os governos: o uso das estatais como instrumento de poder e barganha.


O “centrão”, citado por ele, simboliza essa engrenagem pragmática, onde a ideologia cede lugar ao interesse. Em meio a crises econômicas, a sobrevivência política se sobrepõe à necessidade de reestruturação administrativa — e os Correios seguem sendo palco desse velho jogo.


O contraponto, portanto, é inevitável: entre a missão pública e o peso político, os Correios se tornaram o espelho de um Estado que resiste em se modernizar. O socorro financeiro que Filinto critica é apenas a superfície de um problema mais profundo — a incapacidade do Brasil de reformar suas instituições sem transformá-las em instrumentos de poder.


Os Correios continuam sendo um símbolo nacional, mas um símbolo esvaziado. A empresa que já representou confiança e integração hoje luta para justificar sua própria existência diante de um cenário digital que exige eficiência, transparência e gestão profissional. O que Filinto propõe, em essência, é um despertar: ou o país enfrenta o debate sobre a função e o modelo de suas estatais, ou continuará repetindo o ciclo de socorros, escândalos e inércia.


No fim, sua fala ecoa como um aviso — não apenas sobre os Correios, mas sobre o próprio Estado brasileiro: toda instituição que se afasta de sua missão pública e se rende à política perde não apenas eficiência, mas também o sentido de existir.


Zé Maia

 
 
 

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