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25 melhores discos de 2023 (+ menções)

Foto do escritor: Rudá LemosRudá Lemos



25. Nas - Magic 2

O meu disco de hip hop do ano é deste mestre do flow&lírica, artista que teve recentemente seu seminal álbum “Illmatic”, de 1994, considerado pela revista Billboard como o melhor disco de rap de todos os tempos. Simplesmente: Nas e sua caneta poética e os beats muito loucos de Hit-Boy - conjugando o estilo mais clássico do boom bap com a contemporaneidade do trap.


24. Idris Ackamoor & The Pyramids - Afro Futuristic Dreams 

Fela Kuti e Tony Allen vivem! Aquele som absolutamente cativante que constitui o afrobeat segue sendo disseminado por aí e em 2023 teve seu exemplar da continuidade desse legado com essa pérolazinha aqui. “Somzeira” é o adjetivo que resume.


23. Jessie Ware - That! Feels Good!

Das últimas tentativas de emular a era da disco music, essa aqui me parece uma das mais acertadas. Jessie dispara um som absolutamente sexy e dançante, devedor de divas como Donna Summer e Diana Ross. Não à toa, está na produção Stuart Price, responsável pelo sensacional Confessions On The Dance Floor (2005) da Madonna. Álbum para não pular nenhuma música dentro de uma festa.


22. Ryuichi Sakamoto - 12

Temos aqui uma despedida linda, o último álbum desse pianista dos deuses que muito musicou trilhas sonoras de filmes, e neste derradeiro trabalho mantém sua combinação entre música erudita e o som mais atmosférico do eletrônico - com uma valorização delicada dos “tempos mortos”.


21. Yussef Dayes - Black Classical Music

Misturando aspectos mais minimalistas da música erudita com variedade de estilos de jazz, é de tudo um pouco o que está aqui: com direito a uma puxada de "ponto de terreiro" no final de "Chasing the Drum" e a luminosidade soul em “Woman’s Touch” (com o uso da bela voz de Jamilah Barry).


20. Dur-Dur Band Int. - The Berlin Session

Quando eu conheci o rock do Camboja dos anos 60, duramente reprimido pelo governo do Khmer - de nomes como Sinn Sisamouth, Pan Ron e Ros Sereysothea - fiquei muito impressionado. A “guitarrada” de toques psicodélicos combinadas com uma fonética inusitada aos nossos ouvidos me conquistaram de primeira. Eis que me deparo com essa banda maravilhosa da Somália que faz um som muito parecido com aquelas belezas asiáticas. Afro-Ásia!


19. Xande de Pilares - Xande canta Caetano

Chegou para mim o vídeo de Caetano chorando ao final da gravação de "Gente" por Xande antes de eu escutar o disco. É realmente emocionante ver um compositor emprestar suas músicas para um artista da magnitude popular do Xande, revisitadas em tons mais sambísticos ou diretamente pagodeados mesmo. O resultado é mesmo impressionante, não só pela voz potente do cantor enfeitar a poética do tropicalista, mas pelos arranjos aprumados, em produção do cada vez mais genial Pretinho da Serrinha - e a participação de músicos do quilate de Carlinhos Sete Cordas e Pedro Baby. Joia.


18. Banda Eddie, Karina Buhr & Isaar - Carnaval chanson

Acho que a saudade das festanças em Olinda bateu. Depois da Filipe Catto, o melhor disco de regravações do ano. Frevo repaginado devedor da cultura viva e rica de Pernambuco!


17. Peter Gabriel - i/o

Nada como um veterano, após um tempo sem trazer um trabalho novo mais relevante, chegar com o impactante “i/o”. Disco de diversas camadas pop, tons progressivos e esquisitices geniais.


16. Slowdive - Everything Is Alive

Difícil resistir a esse dream pop de uma de suas bandas mais representativas. Paisagens oníricas, ruídos psicodélicos e rituais hipnóticos - devemos estar mesmo dentro de uma nave espacial.


15. Seckou Keita & BBC Concert Orchestra - African Rhapsodies

Seria uma belíssima trilha sonora de qualquer filme que resgatasse as mitologias dos povos originários. Preciosas músicas centradas na harpa-alaúde Corá lindíssima do senegalês  Seckou Keita e o acompanhamento da consagrada orquestra britânica.


14. Altın Gün - Aşk

Gosto muito quando o rock consegue adentrar em outras culturas, sem descaracterizar os estilos musicais mais tradicionais. Atuando de forma anticolonial, porque absorve os estilos musicais de forma não impositiva ou plagiada, mas como uma troca - dentro da lógica da interculturalidade. Neste caso, a banda holandesa Altın Gün mistura os elementos tradicionais da música turca com a psicodelia rockeira. O resultado é uma delícia, de imediata aderência.


13. Depeche Mode - Memento mori 

A realização mais bem sucedida em 2023 entre as bandas consagradas dos anos 80, os britânicos em seu 15º álbum não deixam nada a desejar. O som industrial de "Told You So" pode se encontrado em "My Favourite Stranger", o synthpop cativante de "Blasphemous Rumours" está ali em "Wagging Tongue"; o eletrônico dançante bizarro de "Personal Jesus" pode ser encontrado em "Ghosts Again". Ou seja, nada a dever do sensacional Depeche Mode de antigamente.


12. Elza Soares - No tempo da intolerância

Quando Deus Elza faleceu, o meu movimento inicial após superar a tristeza imediata foi pensar no que ela poderia já ter gravado e não lançou, visto que estava numa fase muito produtiva da carreira, emendando álbuns um atrás dos outros - e sempre muito bem acompanhada de músicos, produtores e compositores geniais. Eis que o álbum póstumo fica em igualdade aos recentes discos que se descolaram mais do samba tradicional, seu gênero mais trabalhado na carreira. O tom aqui é muito político, às vezes, sem muitas sutilezas, mas sempre acompanhado do suíngue do samba-soul. A voz única e a postura altiva só faz a gente acreditar que ela está com a gente, que Elza ainda vive!


11. Filipe Catto - Belezas são coisas acesas por dentro

Lembro sem querer de estar vendo uma live da Filipe Catto, artista que já admirava em seu repertório autoral, e aí ela revela que gravaria um disco apenas de Gal Costa. A princípio, gelei, mas confiando no senso estético da Filipe, sabia que poderia ficar muito bom. O que foi surpreendente é que além de se preocupar em não emular de forma automática e sem personalidade, a Catto deu novos significados às músicas, abrindo seus sentidos ao se prenderem no formato trio rock e que se aproxima da psicodelia. Uma homenagem de honrar o espírito de uma das nossas melhores cantoras de todos os tempos.


10. Carminho - Portuguesa

Aonde está o fado português? Que dificuldade achar nomes recentes que praticam desse jeito tão lindo e único de cantar, de estilo declamado e violão dedilhado. Pois, a Carminho está aí. Com uma carreira já consolidada, participando até de filme hollywoodiano ("Pobres criaturas"), Carminho faz aqui o que se espera de um excelente disco de fado: belíssimas canções, daquelas que tocam em cheio na alma.


9. Alcione - Alcione 50 anos

Deusa. Regravando seus antigos clássicos como se fossem novos em uma grande saudação à sua existência no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Na abertura, a marrom lança logo um cântico para Xangô e para Iansã, para abrir caminhos, e termina com o inevitável "Não deixe o samba morrer" e no meio disso seus pagodes românticos, sambas de roda, partidos altos e saudações à Mangueira. Irretocável! Queria estar lá!


8. James Blake - Playing Robots Into Heaven 

Uma prova que na música eletrônica há ainda muito espaço para inovação e recriações de caminhos melódicos únicos. James com seu tecladinho melancólico constrói aqui um grande cenário ao mesmo tempo que sombrio e minimalista, de cativante marcação da eletrônica mais dançante, que dialoga com o vigoroso movimento dubstep. 


7. Christine and the Queens - Paranoïa, Angels, True Love

Wow! Das experiências revisionistas recentes do pop de sintetizadores dos anos 80, não esperava vir dessa banda francesa, em seu 4º disco, um petardo dessa qualidade... São canções extremamentes atmosféricas, com uma expansão de matizes e elementos hipnóticos completamente viciantes.


6. Aguidavi do Jêje - Aguidavi do Jejê

A música da nação Jêje-Mahin eternizada: uma profusão de atabaques e agogôs gravados no Terreiro de Bogum, o quilombo mais antigo da Bahia. Dizer mais que isso pode estragar a potência que a música já tem. Simplesmente perfeito.


5. Marujos Pataxó - A Força dos Encantados 

Antes de mais nada, preciso agradecer ao site Farofá por me apresentar essa preciosidade. Infelizmente, passou despercebido por outros canais de música mais renomados, o que demonstra certa limitação na busca por uma música mais decolonial que não tem a publicidade midiática que merecia. O resultado dessa obra nos reconduz para a vida na mata, com o contato direto com a ancestralidade Pataxó, celebrando a natureza e cultivando os valores mais nobres e hoje muito esquecidos.


4. Omar Sosa & Tiganá Santana - Iroko

Afrodiaspórico na veia, Bahia e Cuba olham em conjunto para o continente distante. Trabalhando com os códigos do jazz e do ijexá, esse culto lindo alimenta a alma de tal forma que a transposição para a África é imediata e avassaladora.


3. Iara Rennó - Orí okàn

Nessa vertente mais atual do que se poderia chamar de afro-pop brasileiro, de nomes como Luiza Lian e Luedji Luna, a Iara Rennó me surpreendeu fortemente com esse aqui. Tem dedo de todo mundo bom nessa seara do afoxé: Tiganá Santana, Zé Manoel, Anelis e Serena Assumpção... Mas me pareceu com um sopro de elevada espontaneidade e leveza dessa vez. A devoção aos orixás aqui não está mais na batucada percussiva, mas nos violões dedilhados e harmonias vocais de rara beleza. Encerrar o disco a cappela, com a mãe de santo baiana Egbomi Cici enaltecendo coração-Oxalá cabeça-Yemanjá é para iluminar a vida de qualquer um.


2. Rodrigo Campos - Pagode novo

Teóricos da MPB costumam dizer que estamos na era do "fim da canção": todas as melodias e líricas já teriam sido elaboradas e agora viveríamos em uma espécie de constante simulacro. A turma do Passo Torto e do Metá Metá me parece que entenderam o conceito, mas não optaram nem por uma ruptura radical das formas clássicas da canção e, muito menos, em se contentar em praticar o "mais do mesmo" da MPB mais convencional. Rodrigo aqui expande sua capacidade genial de destrinchar as potencialidades do cancioneiro em português na simbiose perfeita entre a devoção pelo samba clássico e a excitação de caminhos mais experimentais e ruidosos. Deve ser o que podemos chamar de "pós-canção".


1. ANOHNI and the Johnsons - My Back Was a Bridge for You to Cross

Após mais de 18 anos de "I Am a Bird Now" e passando por uns caminhos mais eletrônicos e dançantes, ANOHNI retoma toda aquela carga dramática (talvez alcançando níveis ainda mais profundos?) daquela obra primordial de 2005. Calcada muito sob o piano e melodias preciosas, a voz de ANOHNI é cristalina mas em pujante denúncia contra a solidão dos tempos modernos e o preconceito que sente enquanto mulher trans. A obra mais dilaceradamente bela de 2023.


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CITAÇÃO ESPECIAL 

Preciso aqui citar 6 geniais músicos brasileiros que lançaram discos maravilhosos, no auge dos seus +80 anos, ou no caso de Carlos e Wilson, discos-despedidas de belezas descomunais. Ao que segue:


Nei Lopes - Nei Lopes 80 (EP)

Carlos Lyra - Afeto

Herminio Bello de Carvalho - Cataventos

Wilson das Neves - Senzala e favela

Martinho da Vila - Negra Ópera

Chico Buarque - Que tal um samba?


MENÇÕES MUITOS HONROSAS

Lil Yachty - Let's Start Here. 

Lankum - False Lankum 

Mateus Fazeno Rock - Jesus ñ voltará

FBC - O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta 

Mariene de Castro & Roberto Mendes - Maria da canção 

Nation of Language - Strange Disciple 

Omara Portuondo - Vida 

Cicada - 棲居在溪源之上 (Seeking the Sources of Streams)

Margo Price - Strays 

Earl Sweatshirt & The Alchemist - Voir Dire


MENÇÕES HONROSAS

Kelela - Raven

Yo La Tengo - This Stupid World

Maciel Salú - Ogum (EP)

Channel Tres - Real Cultural Shit (EP)

Ali Farka Touré - Voyageur

Everything but the Girl - Fuse

Jards Macalé - Coração Bifurcado

Susanne Sundfør - Blómi 

Beach Fossils - Bunny 

Asake - Work of Art

Lucina - Nave em movimento - a música artesanal de Luli e Lucina 

Akira Presidente - As incríveis histórias de: Underground Superhero vs o terrível ladrão de loops

Bebel Gilberto - João

Nas - Magic 3

Patrícia Bastos - Voz da taba

Sampha - Lahai


Em breve, lista das minhas 200 músicas favoritas de 2023 (com playlist!)

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